Em celebração aos seus 30 anos de arquitetura, Sandra Moura assina pela primeira vez um espaço na CASA COR São Paulo, que acontece entre os dias 23 de maio a 23 de julho. Para criar uma atmosfera que envolve arquitetura, design e botânica, a profissional desenvolveu um espaço de 100m² de atravessamentos conceituais, onde os três elementos se unem para criar um lugar de habitação com arte. O Estúdio do Artista foi criado em homenagem ao artista plástico paraibano José Rufino, conhecido por suas obras com temas memorialísticos, sociais e políticos e une o regionalismo com contemporaneidade, num espaço atemporal.
Tomando como mote as características da vida e obra de Rufino, Sandra Moura mergulhou em pesquisas de materiais específicos: plantas raras, móveis e objetos de design especial, rochas, estruturas metálicas e texturas. “O estúdio é uma residência artística, uma casa fora de casa, um módulo avançado para viver e soltar o pensamento criativo”, afirma a arquiteta. Assim, seguindo pistas apontadas pela formação original do artista, geólogo com doutorado em paleontologia, a profissional escolheu o quartzito Gabana Gray, uma pedra cheia de fósseis de centenas de milhões de anos que tem uma cor única, verde acinzentada que reveste parte do espaço.Para compor o ambiente, Sandra desenvolveu com a Cerâmica Elizabeth, um parquet cimentício que convive em harmonia com os veios e fósseis do quartzito polido, propondo um contato entre o simples e o sofisticado, uma alusão aos ornamentos barrocos do Nordeste, onde ouro e cal são misturados na arquitetura. Esse mesmo contato de nobreza e simplicidade está presente em uma escultura de parede de José Rufino; uma raiz dupla, que a parte inferior é tingida de escuro e parte superior coberta de ouro.
O elemento de design mais simbólico no estúdio é a grande estrutura metálica e vazada que a arquiteta desenhou para percorrer todo o espaço. Híbrido de esqueleto de coluna e viga, o elemento se transforma em estante, vitrine ou cabide, passando pelo hall, copa, quarto e reaparecendo no terraço. Essa peça, acomoda parte das coleções de estranhezas de Rufino, vindas do ateliê do artista, livros, obras de arte de sua autoria e plantas raras, em vasos ou em terrários.
As plantas, uma das maiores paixões de Rufino, foram cuidadosamente pesquisadas pela arquiteta, com o suporte do homenageado e da equipe da Acta Botânica, responsável pelasbuscas e trato de cada espécie rara. Na área externa, destaque para o sofá que se compõe de várias formas, design de Alain Blatché para Saccaro.A estética precisa do jovem Jader Almeida dialoga com o conceito de design cooperativo/coletivo de Geraldo de Barros, fotógrafo, artista e design por quem Rufino nutre especial interesse. Na realização do desejo do “cliente-artista”, Sandra encontrou a metáfora ao ideal de “design para todos”, tema da mostra esse ano.
Em uma das paredes, um enorme painel fotográfico, de 7m x2,50m, rompe os limites do estúdio, transportando o olhar diretamente para o que se vê do ateliê paraibano de Rufino, uma reserva de Mata Atlântica. A mata trazida de lá, por meio de uma simples fotografia, cria um jogo de transmutação de lugares, um tipo de mágico que testemunha que arquitetura e arte, quando unidas, provocam sonhos.
Fotos: Reprodução