O que vamos fazer com esse mundo tão maluco? Não costumo ver reality shows, até porque tive a honra de fazer o primeiro reality show do Brasil. Em um momento que a internet era discada e que tinha que gerar conteúdo verdadeiro, sem máscaras, pois estávamos na mira da imprensa que desconfiava que aquilo pudesse ser armado. Mas não era. Fui convidada há dezessete anos, em 2000, pelo Banco de Eventos, a realizar esse desafio, em parceria com o Unibanco e a W/Brasil: colocar dois jovens sozinhos vivendo durante 99 dias trancados em dois apartamentos, ele em São Paulo e ela no Rio de Janeiro, monitorados vinte e quatro horas por dia, para provar que o primeiro cartão de crédito virtual E-card Unibanco, era seguro e que era possível comprar pela internet.
O E-moço (Arthur Ranieri) e a E-moça (Fernanda Kfuri) entraram em seus apartamentos absolutamente vazios, só com um computador e um kit de sobrevivência, preparado pelo maravilhoso Amir Klink, e, dali pra frente, tinham que viver desse cartão, mobiliando o apartamento, comprando comida, roupas e o que mais quisessem e precisassem. Se quisessem uma academia, tinham que ir buscar uma que aceitasse o cartão, e se não tivesse, eles mesmos tinham que enviar um e-mail e convencer aquele estabelecimento a aceitar a única forma de pagamento que para eles era possível e, assim, era com qualquer objeto ou serviço que necessitassem.
Mas como manter a atenção das pessoas? Claro que não seria apenas com um rapaz e uma moça na frente de um computador comprando, né? Eu nunca tinha feito nada parecido, mas como uma boa geminiana e produtora, encarei o desafio proposto e desenvolvi várias ações dentro dos apartamentos, criando uma agenda com convidados, festas, visitas da família e uma verdadeira interação entre os internautas e o E-moço e E-moça.
Primeiramente, tinha que entender esse universo da internet, que era muito novo. Não havia tempo de fazer nada a não ser aprender na prática. Para isso, contei com o portal Terra, super parceiro, e o Mercado Livre, pioneiro naquele momento no e-commerce. Tinha verdade, não era um jogo, tinha um propósito, tinha conteúdo informativo, desde a visita de um artista e um Chefe de cozinha, misturado com uma ação social, meditação, visita do Corpo de Bombeiros dando aula de primeiros socorros de forma divertida, visita de atletas, até uma festa a fantasia onde o internauta era sorteado por ter contribuído com os nossos anfitriões. E naquela época, mesmo com a internet discada, tivemos oito milhões de acesso e um livro dessa história publicado. Tenho muito orgulho! Foi um divisor de água na minha vida profissional.
Depois disso, começou uma avalanche de realitys no Brasil e é assustador como não existe nada, existe apenas o estímulo a uma competição desmedida, sem escrúpulos, sem conteúdo relevante. Não diverte, apenas faz com que as pessoas fiquem cada vez mais fúteis e sem rumo em busca apenas de dinheiro.
Não assisti e nem assisto o BBB, mas claro que, infelizmente, por conta das redes sociais e da própria TV, que só fala no tal episodio da agressão à Emilly. Ontem vi a cena onde a moça recebe a notícia do desligamento do agressor e fiquei pasma, pois não havia uma lágrima em seus olhos, nem vi nenhum tipo de emoção verdadeira em sua expressão. Sei que esse artigo vai gerar polêmica, mas não dá para confiar em uma moça que se expõe daquela maneira, visivelmente dirigida. Me parece que são estimulados a manter a audiência do programa com barracos, sexo, discussões e falsas lágrimas, como ontem eu pude ver.
Somos naturamente voyeurs, adoramos espiar, saber o que acontece com as pessoas ao nosso redor. Desde sempre existem as carolas de plantão, as beatas que ficavam nas janelas assistindo tudo o que acontecia na rua em que moravam. Eu mesma fui criada em um bairro do subúrbio carioca, onde tudo o que fazíamos enquanto adolescentes era visto e relatado em pormenores inventados pelas carolas de plantão. Mas eram genuínos, elas não tinham o que fazer e pronto. Os fotógrafos paparazzi existem e estão ali para desnudar a vida das celebridades, muitas vezes chegando a extremos tristes como foi o caso da Princesa Daiane.
Queridas leitoras, pessoas que estão assistindo a esses realitys que denigrem, que mentem, que de reality na verdade não tem nada: cuidado com suas posições, cuidado com a influência que esses programas podem ter sobre nossas crianças e adolescentes que estão em formação, que estão começando a entender a vida, pois podem ter uma visão deturpada sobre justiça, manipulação e falsos sentimentos. Vamos buscar e estimular que essa nova geração que está em formação se tornem As Mais Influentes e verdadeiras pessoas para um Mundo melhor!
(O sentimento expresso nessa coluna com relação ao fato ocorrido no BBB é de pura responsabilidade da autora, não sendo, necessariamente a opinião da Revista A Mais Influente).
Fotos: Acervo Pessoal
Foto da capa: Reprodução