Um crime chocou as pessoas ontem e afirmamos: reabriu a discussão sobre o machismo. As argentinas Marina Menegazzo e Maria José viajavam pelo Equador quando foram assassinadas por dois homens. A tristeza não só chocou a família, como as pessoas do mundo inteiro.
Inconformada com o crime e com a demora de justiça, uma estudante paraguaia Guadalupe Acosta postou uma carta aberta em memória ás vitimas. Em primeira pessoa – ela fala do crime como se fosse as meninas – a estudante aponta as diferenças entre um homem e uma mulher viajar sozinha. A carta discute a importância do feminismo, o porquê da mulher viajar sozinha ou até sobre a roupa que elas estavam usando. Isso precisa ser discutido, ou precisamos ficar presas no nossa casa com medo de conhecer o mundo porque somos mais ‘frágeis’? Ou porque mulher não pode ficar sozinha?
Nós mulheres, temos e precisamos saber disso cada vez mais. Nós temos o direito básico de ir e vir, de circular em qualquer lugar com mais segurança, sem medo de morrer na esquina, ou ser estuprada/morta.
Com mais de 600 mil compartilhamentos, o texto tornou-se um viral. Leia a tradução na íntegra:
“Ontem me mataram. Recusei que me tocassem e com um pau arrebentaram meu crânio. Meteram-me uma facada e deixaram que eu sangrasse até morrer. Que desperdício, meteram-me num saco de polietileno negro, enrolada com fita adesiva e fui jogada em uma praia, onde horas depois encontraram-me. Mas pior que a morte, foi a humilhação que veio depois. Desde o momento que tiveram meu corpo inerte, ninguém se perguntou onde estava o filho da puta que acabou com meus sonhos, minhas esperanças, minha vida.
Não, mas bem começaram a me fazer perguntas inúteis. A mim, imaginam? Uma morta, que não pode falar, que não pode se defender. Que roupa estava usando? Por que estava sozinha? Como uma mulher vai viajar sem companhia? Se meteu em um bairro perigoso, o que esperavas?
Questionaram meus pais por me darem asas, por deixar que eu fosse independente, como qualquer ser humano. Disseram-lhes que, seguramente, andávamos drogadas e que estávamos procurando, que alguma coisa fizemos, que eles deveriam ter nos vigiado. E só morta percebi que não, que para o mundo eu não sou igual a um homem. Que morrer foi culpa minha, que sempre vai ser. Enquanto que se os tiítulo fosse ‘morrem dois jovens viajantes’ a gente estaria comentando as suas condolências e com o seu falso e hipócrita discurso de dupla moral pediriam pena maior para os assassinos.
Mas ao ser mulher, é minimizada. Torna-se menos grave, porque claro, eu o procurei. Fazendo o que eu queria, eu encontrei o meu castigo por não ser submissa, por não querer ficar em minha casa, por investir meu dinheiro em meus sonhos. Por isso e muito mais, fui condenada. E devo dizer que fiquei, porque eu já não estou cá. Mas você está. E você é mulher. E tens que bancar que continuem a espetar o mesmo discurso de “fazer respeitar”, de que a culpa é tua que te gritem que te queiram tocar / lamber / chupar algum de seus genitais na rua por usar um short com 40 graus de calor, de que se você viaja sozinha é uma “Maluca” e muito provavelmente se aconteceu alguma coisa, se tiverem pisado os teus direitos, você pediu por isso.
Peço-te que por mim e por todas as mulheres a quem nos calaram, nos silenciaram, elas deram a vida e os sonhos, levante a voz. Vamos lutar, eu ao teu lado, em espírito, e prometo que um dia vamos ser tantas, que não haverá a quantidade de sacos suficientes para calar a todas.”
Ayer me mataron.Me negué a que me tocaran y con un palo me reventaron el cráneo. Me metieron una cuchillada y dejaron…
Publicado por Guadalupe Acosta em Terça, 1 de março de 2016