Podemos viver a vida reclamando ou simplesmente vivê-la encarando de frente com muita vontade e gratidão todas as oportunidades que se apresentam quando nos chegam. Foi assim que tive acesso a Surdolímpiadas, através de uma guerreira linda que conheço desde pequena, Marina de Moraes Silva, que nasceu prematura e com um diagnóstico de que tinha 5% de chance de sobrevida, mas ela resistiu bravamente com seu um quilo e vinte. Após um mês de berçário comum e três meses em uma UTI Neonatal, lutando dia após dia, contrariando todas as evidências, onde nem os médicos conseguiam entender como, seus pais seguiam fazendo tudo o que fosse possível para salvar sua vida. Durante o processo um antibiótico lesionou sua audição. Logo cedo fez adaptação de próteses auditivas bilaterais e foi oralizada em escolas de ouvintes. No início de sua adolescência o futebol passou a fazer parte de sua vida, porque nessa época em que as meninas cochicham, Marina não podia participar desses momentos, então se juntou aos meninos e foi falar alto e jogar bola. Marina encontrou no esporte o caminho para superar seu limite.
Mas sua mãe Ana Cristina Moraes, que já trabalhava em uma escola, teve também que aprender a lidar com a deficiência de Marina e foi procurar entender como poderia incentivar sua filha a aprender a conviver com a cultura surda. A semente foi plantada e Marina começou um curso de Libras no INES-RJ, até que localizou pela internet surdas que jogavam futebol. Em pouco tempo já estava fazendo parte da equipe. O futsal, opção de Marina por sua baixa estatura não é um esporte olímpico, mas isso não foi um empecilho para sua convocação para fazer parte da maior seleção de Surdoatletas. Ana Cristina fala orgulhosa. “A vida sempre me surpreende com suas reviravoltas, aos 35 anos, achando que as coisas não estavam indo bem, o Universo a leva para o outro lado do oceano, aquele que um dia me fez escolher seu nome, para ser reconhecida não pelo futsal, mas pelo futebol de campo, não pelos ouvintes, mas pelos surdos, não em terra brasileira, mas na Turquia, em Samsun, cidade à beira do Mar Negro, onde seus pés se lavam e depois calçam as chuteiras, Avante Brasil, avante Marina, nascida das ondas do Mar.”
Marina é colaboradora como Gari no Rio de Janeiro, mas o que a move além de atuar na remoção e varreção pelas ruas de Irajá no Rio de Janeiro, é ser goleira da seleção brasileira de futebol de campo de surdos. E essa dedicação, alegria e profissionalismo, levaram-a a ser convidada pela CBDS para representar o Brasil na 23° Surdolímpiadas de Verão 2107 que será realizada em Samun na Turquia.
A Surdolimpíadas é um evento organizado pelo International Committee of Sports for the Deaf (ICSD), acontece há cada quatro anos e irá ter sua vigésima terceira edição em 2017. A CBDS preetende levar a esse grandioso evento a Delegação Surdolímpica Brasileira composta por aproximadamente 230 pessoas para competir em 16 modalidades esportivas, será a sétima vez que o Brasil vai participar desse evento esportivo.
Que lindo assistir a trajetória dessa menina/mulher que já foi atleta de clubes de futsal. Entre eles Corinthians/Jaguaré, onde integrava um elenco formado por ouvintes. Marina sabe que o Brasil não está entre as principais forças do esporte que é dominado pelas russas e britânico.
Ela, que tem como seus ídolos Jefferson e Rogério Ceni, está confiante na chance de medalhas. “Fiquei surpresa com a convocação, porque estou indo no lugar de uma atleta que se machucou, mas estou feliz por representar o Brasil lá fora. Quero mostrar minha capacidade de superar limites e apresentar os esportes praticados pelos surdos.”
O primeiro jogo aconteceu ontem, às 10h00 da manhã horário de lá, 04H]h00 da manhã horário do Brasil e já tivemos a nossa primeira vitória contra as donas da casa, 4×1 para o Brasil.
Aqui você pode acompanhar a abertura oficial e os jogos torcendo por esses atletas que já são vitoriosos: //www.youtube.com/channel/UC4F_NB0NgMfExUZIizCPBmA
O que podemos desejar para a nossa Marina é que traga essa medalha e seja A Mais Influente atleta para a sua geração mostrando que para quem quer não há limite que não possa ser superado.
Fotos: Arquivo Pessoal