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saúde

Por Isabela Ribeiro

Um dos capítulos da novela “O Outro Lado do Paraíso” causou polêmica. Em uma cena, a personagem Karina, interpretada por Malu Rodrigues, recebe orientações equivocadas do médico Samuel, interpretado pelo ator Eriberto Leão. Na trama, o profissional diz que a mãe que tinha dado à luz há poucos dias tinha o leite insuficiente e, por isso, outra pessoa deveria amamentar o recém-nascido.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) contraindica a amamentação cruzada. Em resposta à cena da novela, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou uma nota de esclarecimento para reforçar os prejuízos que a prática pode trazer para a saúde das crianças. “A SBP reitera ainda que, ao contrário do que foi sugerido na novela, não existe leite materno “fraco”. É importante destacar que a amamentação deve ser estimulada, pois é o único processo natural que garante acesso ao alimento completo e mais adequado para as crianças. Por isso, deve ser oferecido, de modo exclusivo, nos seis primeiros meses, podendo ser complementado a partir de então” dizia uma parte da nota aos médicos e à população. (Clique aqui e confira a nota na íntegra).

A pediatra Renata Almeida de Souza Carmo, formada pela Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA), explica que doenças infectocontagiosas podem ser transmitidas via leite materno. Citomegalovírus, HIV e mononucleose são algumas delas. Ela ressalta que às vezes a mãe ainda não sabe que tem a doença por estar no período de janela imunológica, quando o exame não acusa a contaminação.

Para a médica, o impacto da cena é extremamente negativo, principalmente porque grande parte da população não sabe dos riscos que a prática traz. Assim, quem se inspira no gesto, mesmo que com a melhor das intenções, pode acabar prejudicando o bebê. “A gente sempre orienta que vá até o Banco de Leite mais próximo”.

Nos Bancos de Leite é feita a pasteurização, tratamento e armazenamento correto para que a substância chegue sem riscos aos hospitais. Esse leite irá amamentar os bebês necessitados. (No site da Fundação Oswaldo Cruz há os endereços dos Bancos de Leite espalhados pelo Brasil).

Dificuldades na amamentação – Renata lembra que há casos em que a mãe não é orientada adequadamente na maternidade e acaba ficando perdida ao ir para casa. Em situações assim, ela destaca que é preciso procurar ajuda de um profissional da área da saúde, principalmente um que seja especializado em pediatria. “Normalmente quem não consegue ou é por uma pega errada ou por falta de orientação”.

Ela conta que o cérebro tem um papel importante na amamentação. Uma pega correta e uma boa sucção são importantes para que mãe e bebê não tenham problemas. Mas, como nem todo bebê sabe, é preciso ensinar. E aí que entra todo o cuidado, paciência e amor.

Na opinião da pediatra, as pessoas hoje são muito cobradas e a consequência disso é querer respostas de maneira rápida e imediata. Ela acredita que é preciso resgatar a função dos médicos de família. “Eu acho que ajudo mais quando atendo o telefone e acalmo [as mães]. Acho que é isso que elas precisam… elas pegam confiança”.

Estímulo – Renata destaca que mães com pouco leite podem estimular o seio deixando o bebê sugar quantas vezes quiser, já que a livre demanda é recomendada durante os primeiros meses. Quanto mais o bebê mamar, mais leite será produzido.

Ela explica que o leite materno é rapidamente absorvido, entretanto, no começo a quantidade produzida é pequena. “Os dois estímulos de descida e produção do leite está na sucção do bebê, principalmente à noite. É importante nos primeiros 15 dias amamentar neste período”.

Uma dica de Renata é que a mãe precisa ter o prazer de amamentar. Ela afirma que, sim, os primeiros 15 dias são difíceis, mas que relaxar e ter a certeza de que alimentará o filho ajudará o leite a descer.  “Alguns bloqueios provêm da mãe pensar que não tem leite, que o filho não mama ou que ele chora porque está com fome, por isso o cérebro é um dos principais responsáveis para que uma mãe consiga amamentar”, explica.

A médica conta que o leite artificial não contém a quantidade de proteína adequada e a gordura não é do mesmo tipo. “Bebês que são de aleitamento materno não têm constipação. Eles podem chegar a oito evacuações por dia, mas não chega a ser diarreia”.

Outra característica do leite materno é que todos são diferentes. Se uma mãe tem um bebê prematuro, o leite terá mais proteína. “É por isso que a gente recomenda, é o mais completo que tem para o bebê. Não tem melhor”.