A Editora Alaúde acaba de lançar a segunda edição, revista e ampliada, do best-seller A política sexual da carne, no qual a autora Carol J. Adams apresenta as estreitas ligações entre os movimentos sociais feministas e as práticas vegetarianas, temas que têm conquistado cada vez mais a atenção e o interesse do público em geral. Na obra, Carol mostra que, ao compreendermos a existência dos pontos de intersecção entre a forma com que as sociedades patriarcais tratam a mulher e os animais, perceberemos também que combater a violência praticada contra esses dois grupos é o único caminho para uma sociedade mais igualitária.
A nova edição traz um posfácio comemorativo do 25º aniversário de lançamento da obra com imagens de propagandas e outras ilustrações, muitas delas enviadas por antigos leitores da obra, que ajudam a sustentar a ideia defendida por Carol, à qual é impossível ficar indiferente.
O livro leva o leitor a avaliar situações comuns no dia a dia que mascaram certos preconceitos contra a mulher e contra o corpo feminino. Fazer associações entre a masculinidade e o consumo de carne e reforçar a tese de que verduras e legumes, considerados “sem graça”, seriam comida de mulher são, para Carol, formas clássicas utilizadas pela sociedade patriarcal para subjugar mulheres e animais.
Amparada por pesquisas de renomados estudiosos sobre o tema, entre eles a feminista e também vegetariana Agnes Ryan, a autora desenvolve ampla discussão sobre o que exatamente vem a ser a política sexual da carne. Segundo a estudiosa, trata-se de um comportamento que reúne todas e quaisquer atitudes que, direta ou indiretamente, animalizam mulheres e, ao mesmo tempo, sexualizam e efeminam os animais. Ainda de acordo com Carol, tal cultura também resulta na forma arrogante com a qual os homens costumam encarar sua necessidade de comer carne.
Para a autora, a dominância masculina é exatamente um dos pontos-chave das questões ligadas a um comportamento que estimula o culto à carne de forma geral. “Em todo o mundo, ser homem é algo que está ligado a identidades que os próprios homens reivindicam ou negam. Os questionamentos são diversos: como se comporta um homem ‘verdadeiro’? O que ele faz ou não? O que ele come? Há, por exemplo, um mito de que um homem ‘de verdade’ não come quiche. Não se trata de uma questão de privilégio; é uma questão de simbolismo. Em parte, a masculinidade é construída por uma cultura que incentiva o consumo de carne e pelo controle masculino em relação a outros corpos”, argumenta a autora.
Obra referência para a compreensão das influências da sociedade patriarcal no comportamento humano, A política sexual da carne instiga e provoca o leitor a refletir e a considerar que a relação entre a matança de animais e a violência contra a mulher estão mais intrinsecamente ligadas do que se imagina.