Por Marcelo Bragança
Simone Zucato é atriz, já participou de novelas e peças de teatro, além de se destacar como produtora teatral e tradutora. Fluente em três idiomas (português, inglês e espanhol) transita com maestria por diversas frentes das artes cênicas e se destaca por suas atuações no teatro e na televisão.
Seu último papel na TV foi na novela das 21h, “O Sétimo Guardião”, da TV Globo, onde viveu Liliane, uma das duas beatas que integrava o séquito de Mirtes Aranha (Elizabeth Savala), contracenando ao lado de Leopoldo Pacheco, Ailton Graça, Paulo Miklos e Inês Peixoto.
A atriz é natural da cidade de Socorro, em São Paulo. Viveu nos Estados Unidos da infância até a adolescência. Seu primeiro contato com a dramaturgia foi por meio de matérias extracurriculares, aos sete anos. O clássico “Romeu e Julieta”, de Shakespeare, foi seu primeiro mergulho nos palcos, quando interpretou a protagonista Julieta Capuleto.
No Brasil estudou em renomadas escolas de dramaturgia, como o Teatro Escola Macunaíma, Escola de Atores Wolf Maya e FAAP, em São Paulo. Já no Rio, frequentou a Casa das Artes de Laranjeiras (CAL) — o famoso O Tablado —, além de ter participado do grupo de estudo ministrado por Bárbara Heliodora, a maior especialista em Shakespeare no Brasil.
Mais tarde voltou aos EUA, onde estudou com grandes nomes, como Robert Castle, no Lee Strasberg Theatre and Film Institute of New York, além de Nancy Bishop, Jandiz Strada e Susan Batson. Ingressou, ainda, em cursos livres da HB Studio, da mesma cidade. Em Los Angeles, estudou com coaches renomados, como Michelle Danner e Bernard Hiller.
No teatro, o seu último desafio foi protagonizar a peça americana “Sylvia”, com texto de A.R. Gurney e que teve Sarah Jessica Parker como protagonista no circuito Broadway. Além de ser a idealizadora, tradutora e produtora do projeto, Simone dá vida á Sylvia. A peça teve sua estreia em julho de 2019 na cidade de São Paulo e seguiu temporada no Río de janeiro.
Além de toda a bagagem profissional, Simone também venceu um desafio na vida pessoal. Um câncer. Confira a entrevista que fizemos com a atriz.
Quando você descobriu sua vocação pelas artes cênicas?
Eu não me lembro de um momento em que tenha acontecido essa descoberta. Nem que eu tenha tido algum questionamento sobre isso. Eu sempre soube o que eu ia ser. Desde criança. Comecei no teatro aos sete anos. Não existiu uma segunda opção para mim. Mesmo quando prestei vestibular para medicina. Meu pai queria que eu fosse médica. Eu sou a atriz que teve que ser médica.
Você também é médica. Qual a especialidade? Ainda pensa em voltar a clinicar?
Eu trabalhei como clínica médica e geriatra. E durante as horas que passava num hospital ou numa clínica, era médica mesmo. É uma profissão que não tem como ser pela metade. Você tem que estudar, se reciclar, e ser bom no que faz. E eu, sou CDF e capricorniana. Então sempre exerci a medicina da melhor forma possível. Não posso dizer o que vai acontecer amanhã. Se eu puder, trabalharei apenas como atriz o resto da minha vida. A medicina exige muito, principalmente energia. E também depende de muitos fatores. É muito frustrante ser médico hoje em dia, no nosso país. Acho uma profissão linda, sou grata aos meus pais pela minha formação, mas o que me faz levantar da cama todos os dias, o que faz meu coração bater, é a arte. E não tem nada que me faça mais feliz.
Sua última novela foi O Sétimo Guardião, onde você interpretou uma beata, a Liliane. Como surgiu o convite? Quais as boas lembranças que você guarda essa experiência?
Aguinaldo Silva me convidou em 2017, após eu fazer um curso seu em São Paulo. Liliane foi uma personagem que eu amei fazer. Ela era muito diferente de mim e de tudo aquilo que eu já havia feito. Aprendi muito. O ritmo de televisão é muito diferente do teatro, são muitas pessoas envolvidas. É um aprendizado diário DELICIOSO. Sem falar dos colegas, dos novos amigos que fazemos durante um trabalho assim. Eu só tenho boas lembranças desses meses que gravei a novela.
Em abril de 2017 foi diagnostica com câncer de mama. Como foi receber essa notícia? Em que você pensou primeiro? Como foi o tratamento? Você está curada?
Foi um choque. Não tenho ninguém na minha família com câncer de mama. Fazia exames de rotina porque tinha displasia mamária e controlava desde os trinta anos. Peguei o resultado dois dias depois que o Aguinaldo me chamou para fazer a novela. Na hora, a minha reação foi ligar para o médico e dizer a ele que precisaria estar curada em seis meses – que era o tempo para começar a gravar a novela. Na sequência, a novela foi postergada e isso me ajudou a fazer o tratamento com mais tempo. A novela foi a primeira coisa em que pensei porque estava muito feliz com o convite e porque era algo que queria muito fazer. Depois caiu a ficha que com essa doença não se pode brincar e que se eu tivesse que abrir mão da novela para me tratar, teria que ter a sabedoria para aceitar isso. E acho que seria tranquilo. Mas felizmente fui diagnosticada num estágio muito precoce da doença, e isso possibilitou que eu me tratasse e fizesse a novela. Retirei dois quadrantes da mama esquerda e na mesma cirurgia já fizeram uma mamoplastia para igualar a outra mama. Na sequência, fiz trinta sessões de radioterapia e hoje faço quimioterapia oral, que no meu caso dura cinco anos, para não deixar a doença voltar no futuro. Ainda tenho três anos e meio pela frente, e hoje estou curada e ótima.
O que você pode falar como Simone e como médica, para alertar as outras mulheres? Qual seria a sua mensagem?
A minha mensagem é para que todos – homens e mulheres – façam consultas médicas de rotina anualmente, que não deixem de fazer os exames que o médico pede e que realizem os exames no tempo solicitado. Isso faz toda a diferença num caso assim. Quanto mais cedo diagnosticarmos uma doença, mais tranquilos passaremos pelo tratamento e maiores as chances de cura. E falo isso para homens e mulheres porque nem só mulheres tem câncer de mama e porque temos que pensar em outras doenças também.
Você estava em cartaz com o espetáculo da Broadway “Sylvia, uma comédia romântica”, que foi encenado pela a atriz Sara Jessica Parker, em NY. Na peça você é uma cachorra. Como foi para compor essa personagem tão inusitada?
Eu li Sylvia pela primeira vez em 2015. A agência americana disse que a personagem era a minha cara. Quando eu li, eu já pensei que aquela personagem não poderia ser uma cachorra. O texto pedia algo diferente. Sylvia é uma cachorra humanizada. Não é uma mulher animalizada. Não a via de quatro, não a via latindo… eu já pensava em alguns traços porque sou muito cachorreira e observo muito meus cachorros. Somando a isso, é preciso ter muito cuidado para não cair no caricato e nem no ridículo. É preciso fazer com verdade. Se desconectar de tudo e naquele momento, pensar como um cachorro pensaria. Aí fui para a estreia de Sylvia no Cort Theater, na Broadway, e observei muito o trabalho da Annaleigh Ashford – que era muito parecido com o que já tinha em mente. Fui recebida pelo elenco e conversei com a Annaleigh que me disse que o segredo dela foi observar cachorros. Ou seja, eu estava no caminho certo. Sylvia é um personagem que exige muito fisicamente, mas quando subo no palco fico tão elétrica, que mal sinto. Só sinto a alegria de uma cachorra que acabou de ganhar uma família.
Qual mensagem “Sylvia” deixa para o público?
Nossa! Eu acredito que Sylvia deixa tantas mensagens. Ela fala do amor incondicional que os animais têm pelos seus donos. Ela fala da importância de se ter um cachorro. Ela fala da dificuldade de comunicação que temos nos dias de hoje e da importância de ouvir o outro, de entender as necessidades do outro. Fala da importância do amor, da gratidão e do respeito.
Qual são as suas referências na TV ou no Teatro?
Tenho algumas. Não só mulheres. Amo o trabalho de alguns atores e as sutilezas e a versatilidade me chamam a atenção. Não tem como não falar de Dna. Fernanda Montenegro, de Elizabeth Savalla, de Lilia Cabral, de Drica Moraes, de Adriana Esteves, de Zezé Polessa, de Ana Cecilia Costa, de Andrea Beltrão, de Fabíola Nascimento, de Débora Fallabella, de Marjorie Estiano, de Leandra Leal, de Fernanda Freitas, de Vanessa Giacomo… lá fora também observo muito o trabalho de Meryl Streep, de Laurie Metcalf, de Juliette Binoche, de Natalie Portman e Annaleigh Ashford. Sem falar que sou fascinada pelo trabalho de Tony Ramos, Tom Hanks e Bryan Cranston.
Qual personagem você ainda gostaria de interpretar?
Ahhh, eu tenho um compêndio com tudo o que ainda quero interpretar. Mas atualmente estou sentindo necessidade de me desconstruir. Aqui no Brasil, as pessoas te estereotipam na maioria dos processos de seleção. Isso é perfeitamente compreensível porque hoje em dia é tudo muito rápido. Corremos contra o tempo. Mas eu acho que o ator tem uma imensidão de possibilidades que pode e deve ser explorada. Quando as pessoas me olham, dizem que eu sou uma mulher elegante, com “cara de mulher rica”. Não conseguem ver que eu sou uma pessoa simples, e que como atriz posso fazer qualquer personagem. Então acho que no momento a minha necessidade é de interpretar algo que seja oposto aquilo que as pessoas veem na Simone e ao que sei fazer. Gosto de desafios. Tenho muita vontade de interpretar uma moça simples, humilde… e também tenho muita vontade de interpretar uma vilã, porque é difícil aceitar que na vida exista essa “vilania” que as vezes vemos na ficção. Sem falar que também tenho muita vontade de interpretar uma dançarina, uma nordestina… adoraria também trabalhar mais meu lado cômico. Acho a comédia algo desafiador e ao contrário do que pensam, difícil de se fazer.
Simone, como você cuida do corpo? É adepta aos exercícios físicos? Recorre a tratamentos estéticos?
Eu vou à academia todos os dias da semana. Faço musculação, exercícios aeróbicos ou/e zumba. Às vezes, me aventuro num circuito de crossfit. Também vou ao meu dermatologista para fazer laser e outro aparelhos como o Multiwaves, que eu adoro.
Qual é a sua relação com a maquiagem? Prefere um look mais natural, ou, quando tem oportunidade, gosta de makes mais carregadas?
Eu amo maquiagem. Fui criada na Flórida, onde tem muitas mulheres latinas e o americano usa muita maquiagem desde cedo. Com oito anos eu usava maquiagem para ir á escola. Amo comprar tudo o que lançam para experimentar e gosto de me maquiar. No dia a dia eu geralmente faço um make mais natural, e quando tenho algum evento ou compromisso à noite, carrego um pouco mais. Mas também tem aqueles dias em que acordo e tenho vontade de experimentar uma make nova, sair de casa produzida. Se eu sentir que tenho que colocar cílios postiços e um batonzão para ir na esquina, eu ponho. Me maquiar é uma terapia.
Quais são seus planos futuros?
Não gosto de fazer muitos planos, pois estamos vivendo tempos em que planejar coisas pode ser frustrante. Mas como sou uma capricorniana que traça metas e vai atrás, tenho alguns planos. Tenho, paralelamente à Sylvia, duas outras produções teatrais em andamento… uma delas que fala sobre autismo e já fazem 08 anos que estou tentando erguer. Infelizmente, a maioria dos patrocinadores não tem interesse em patrocinar um drama que fale sobre isso. Hoje, no Brasil, temos uma a cada sessenta crianças sendo diagnosticadas com autismo. Muitas famílias não têm condições e informação para lidar com essa realidade que é dura, e que pode ser amenizada. Então eu quero muito tentar realizar esse projeto – que é belíssimo – no próximo ano. E quero muito fazer cinema. Ou seja: atuar, atuar, atuar… e estudar, e ler, e aprender a dançar os ritmos que não sei dançar…. Esses são meus planos…