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arte & cultura

 

Os trabalhos passam a integrar a Galeria Claudia Andujar | Maxita Yano por tempo indeterminado, com o intuito de repensar o espaço expositivo inaugurado há dez anos e aprofundar novos diálogos e reflexões sobre as existências indígenas 

 

 

Paulo Desana, Os Espíritos da Floresta2025.

 

 A partir de 26 de abril de 2025, o Instituto Inhotim apresenta uma nova exposição na Galeria Claudia Andujar, que agrega ao seu nome o termo Maxita Yano – “casa de terra” na língua Yanomami. Marcando os dez anos desde a sua inauguração, em 2015, a Galeria Claudia Andujar | Maxita Yano recebe agora os trabalhos de 22 artistas indígenas da América do Sul, tratando de temas como o ativismo e a luta indígenas, o debate sobre imagem e fotografia, e as alianças entre diferentes povos. O conceito curatorial traz como proposta o diálogo entre Claudia Andujar e artistas indígenas contemporâneos, assim como uma nova expografia que pretende dar maior ênfase na potência política da artista.

 

Integram a nova exposição de longa duração obras de Denilson Baniwa (AM), Paulo Desana (AM), Edgar Kanaykõ Xakriabá (MG), UÝRA (AM), Tayná Uráz (RJ), Graciela Guarani (MS), Alexandre Pankararu (PE), Renata Tupinambá (RJ), Tiniá Pankararu Guarani (PE) e Hutukara Associação Yanomami, além dos nomes internacionais Elvira Espejo Ayca (Bolívia), Julieth Morales (Colômbia), Olinda Silvano (Peru), David Díaz González (Peru) e Lanto’oy’ Unruh (Paraguai).

 

Uma das principais fotógrafas de sua geração, Claudia Andujar (Suíça, 1931) tornou-se uma das vozes mais ativas na defesa dos direitos Yanomami. Em reconhecimento à relevância de Claudia Andujar para a arte brasileira, a galeria permanente dedicada exclusivamente ao seu trabalho foi inaugurada no Inhotim em 2015. Para este novo momento em 2025, a exposição inaugural foi revista para incluir novos diálogos entre Andujar e artistas indígenas contemporâneos e atualizar contextos, aprofundando reflexões relacionadas às existências indígenas no Brasil e no mundo. Tratando de questões que vão da luta indígena ao ativismo indigenista, das redes de aliados às conquistas comunitárias a partir das alianças, a nova exposição discute o estatuto da fotografia, no debate sobre representação, imagem e identidade indígena. A nova mostra propõe uma visão expandida sobre natureza, território, cotidiano, espiritualidade, retrato e alianças.

 

“A exposição Maxita Yano celebra os dez anos da Galeria Claudia Andujar no Inhotim, um espaço que se consolidou como referência na preservação e difusão da obra da artista, assim como na formação de um olhar amplo para a presença indígena no cenário artístico contemporâneo. Ao longo de sua trajetória, Claudia Andujar estabeleceu alianças fundamentais com o povo Yanomami, utilizando a fotografia como ferramenta de luta pela demarcação de suas terras e pela defesa de seus direitos. A nova exposição, ao colocar em diálogo sua obra com a produção de artistas indígenas contemporâneos, busca evidenciar a continuidade dessa luta e a importância das alianças para a construção de um futuro mais justo”, explica Beatriz Lemos, curadora da mostra. O projeto tem assistência curatorial de Varusa e contou com pesquisa de Douglas de Freitas, Marilia Loureiro, Deri Andrade e Lucas Menezes.

 

A mostra é organizada em núcleos temáticos que convidam o público a se aprofundar na obra de Andujar e a conhecer detalhes de sua produção artística e de seu engajamento na luta indígena. O trajeto se inicia com um conjunto de trabalhos de Claudia Andujar focados em imagens da floresta amazônica a partir de suas fotografias de paisagens aéreas, como a série Rio Negro (1970-71), por exemplo. Une-se a essa coreografia a presença da artista UÝRA, que utiliza o corpo como suporte para narrar histórias de diferentes naturezas. Com seus autorretratos, UÝRA representa a floresta, que é constantemente observada e, aqui, nos confronta de volta.

 

David Díaz Gonzales, Hilando y Bordando, da série Retratos de mi sangre, 2020

 

A familiaridade com o território Yanomami permitiu a Andujar registrar a vida indígena com sensibilidade e respeito, por meio de imagens que revelam a confiança mútua e a cumplicidade entre a fotógrafa e seus retratados. Na segunda sala da exposição, as obras de Andujar na região do rio Catrimani, onde passou longos anos em convivência com os Yanomami, e da artista Elvira Espejo Ayca, em sua comunidade natal, comunicam que a arte, neste contexto, não é apenas objeto estético, mas é presença e age como condutor de sustentação da memória e da identidade. Assim, a produção artística que emerge da conexão com o território torna-se elemento intrínseco do ecossistema, nutrindo-se de suas particularidades e, simultaneamente, contribuindo para sua preservação.

 

Na sequência, na grande sala central da galeria, os diálogos entre as obras acontecem em torno da espiritualidade, dos rituais, a comunidade e a luta e o retrato. As fotografias de Claudia Andujar retratam o cotidiano e a espiritualidade dos Yanomami em profunda conexão com o território e revelam a essência Yanomami em comunhão a outros povos indígenas. Esses aspectos encontram ressonância nas obras de Graciela GuaraniTayná UràzJulieth Morales e Lanto’oy’ Unruh, cujas produções artísticas também exploram a relação intrínseca entre cultura, cosmologias e território. Já a representação do corpo indígena como um símbolo de resistência ecoa nas obras de Edgar Kanaykõ Xakriabá, que utiliza a arte como instrumento de luta pela terra. Paulo Desana e David Diaz Gonzales, ambos oriundos de contextos indígenas amazônicos entre Brasil e Peru, apresentam seus trabalhos tendo em vista a prática artística do retrato, técnica essencial para a representatividade dos povos.

 

Por fim, o quinto núcleo evidencia os impactos destrutivos do contato entre a sociedade não indígena e os Yanomami por meio de registros de Andujar, desde a construção da Perimetral Norte, na ditadura militar, até a persistência do garimpo ilegal. Ali revela-se a devastação ambiental, epidemias e violência que marcaram esse encontro, reforçando o compromisso da artista com a saúde indígena e a denúncia dessas violações. Neste contexto, Denilson Baniwa, em seu trabalho comissionado pelo Inhotim, nos leva para Boa Vista, Roraima, em 2025. A obra é uma cartografia da presença Yanomami na cidade, que com frequência enfrenta extrema vulnerabilidade, como o alcoolismo e a dependência química. Um reflexo das profundas transformações sociais e culturais que afetam esse povo e um tributo à luta pela dignidade dos Yanomami.

 

“É muito relevante constatar como que o cenário artístico conquistado pela produção indígena contemporânea foi impactado positivamente pela existência da Galeria Claudia Andujar no contexto institucional brasileiro, nos últimos dez anos. Para o Inhotim, revisitar esse projeto reforça não apenas seu compromisso perene com a pesquisa e a inovação, mas também reafirma a qualidade ética dessa galeria e da trajetória de arte e luta de Claudia Andujar”, pontua Júlia Rebouças, diretora artística do Inhotim.

 

COMISSIONAMENTOS 

 

Além da obra comissionada de Denilson Baniwa, o Instituto Inhotim, com o compromisso de fomento à pesquisa e às práticas artísticas contemporâneas em consonância ao seu programa curatorial, comissionou trabalhos de Paulo DesanaOlinda SilvanoGraciela GuaraniAlexandre Pankararu e Tiniá Pankararu-Guarani, todos em exibição na nova mostra na Galeria Claudia Andujar | Maxita Yano.

 

Na série de fotografias Os Espíritos da Floresta (2025), de Paulo Desana, são evocados espíritos originários por meio da pintura corporal e experimentações com luz e opacidade, trazendo à tona segredos transmitidos pela oralidade, que atravessam gerações. Neste comissionamento, são retratados representantes das aldeias Arapowã Kakya, do povo Xukuru Kariri, e Naô Xohã, dos povos Pataxó e Pataxó Hãhãhãe. As fotografias partem do resgaste da memória comunitária dessas duas aldeias indígenas, atualmente localizadas em Brumadinho. Ao combinar pinturas corporais repletas de significados cosmológicos com tintas fluorescentes e luz negra, o artista cria um diálogo visual impactante que não se limita a preservar a tradição, mas a reinventa, promovendo afirmação da identidade.

 

A obra Xe Ñe’e (2025) — que na língua Guarani Kaiowá significa meu ser/minha vida, — demarca o retorno de Graciela Guarani à sua comunidade, a aldeia Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul. Transpondo a linearidade do tempo, a artista acompanha o dia a dia na aldeia durante uma de suas recorrentes visitas ao território, e que, desta vez, foi realizada em viagem de pesquisa para o projeto. Graciela cria narrativas visuais que destacam as sutilezas e a beleza do cotidiano de um povo que, apesar da progressiva redução territorial, do confinamento compulsório em reservas e das constantes invasões latifundiárias, persevera em sua trajetória de resistência e movimento.

 

Em Híbrida (2025), Alexandre Pankararu, Graciela Guarani e Tiniá Pankararu Guarani atravessam temporalidades utilizando-se de arquivo audiovisual e da estética futurista para afirmar às novas gerações a importância da luta indígena. O filme aborda a juventude indígena distanciada de um propósito comunitário, em um cenário cibernético e distópico. A narrativa acompanha uma adolescente indígena que, em meio ao desalento e inércia perante o mundo, encontra inspiração em mensagens holográficas de lideranças do passado. A obra, idealizada, dirigida e protagonizada em família, viaja no tempo para testemunhar fatos históricos no Brasil e expor que a luta é sólida, contínua e constituída por importantes lideranças — muitas ainda sem o devido reconhecimento.

Olinda Silvano realiza a pintura de um painel de grandes dimensões especialmente para a ocasião da exposição. A artista cria um kené, desenho em padrões geométricos e cores vibrantes que reúnem um fazer artístico, curativo e cosmológico do povo Shipibo-Konibo. Exercido majoritariamente por mulheres cuja pintura é acompanhada por cânticos tradicionais de cura, o kené compreende um sistema cultural complexo passado de geração em geração.

PESQUISA E RECONHECIMENTO

 

A exposição apresenta ainda a Sala Documental Claudia Andujar, que se dedica à pesquisa sobre Claudia Andujar, destacando seu papel como fotojornalista e ativista na defesa dos Yanomami. Com materiais provenientes de importantes acervos, como o Centro de Documentação Indígena (CDI) e o Instituto Socioambiental (ISA), o espaço traça a trajetória da artista desde sua atuação na Amazônia até sua influência no campo da arte e dos direitos indígenas. A mostra também revisita a história da própria Galeria no Inhotim, além de momentos marcantes da carreira de Andujar, ressaltando o impacto de sua obra como denúncia e reflexão sobre a representação da imagem.

 

Hutukara Associação Yanomami (HAY), organização representativa dos povos Yanomami e Ye’kwana com atuação há mais de 20 anos e presidida pelo xamã e liderança Davi Kopenawa Yanomami, assina a curadoria de uma das salas da galeria, apresentando a produção contemporânea Yanomami, com a exibição de vídeos de Morzaniel Ɨramari Yanomami e do trio Aida Harika YanomamiEdmar Tokorino Yanomami Roseane Yariana Yanomami, além de18 desenhos dos artistas Ehuana Yaira YanomamiJoseca Mokahesi YanomamiOneron YanomamiSalomé Ohotei Yanomami, que trazem o olhar do próprio povo Yanomami sobre si. Essa ação representa grande força no projeto curatorial de Maxita Yano, um lastro de legitimidade e resistência deste trabalho conjunto.

 

 

Edgar Kanaykõ Xakriabá, Wahirê: Canto e dança tradicional do povo Xakriabá, 2018

 

PROGRAMA PÚBLICO

 

Ao longo do ano de 2025, a partir da nova exposição na Galeria Claudia Andujar | Maxita Yano, é estabelecido um ciclo de programações públicas, com curadoria de Marilia Loureiro, que tem como foco os diálogos com os povos de Minas Gerais e os povos indígenas em contexto urbano. A partir dos ecos indígenas do passado que permanecem na região e das questões recentes que afetam as comunidades locais, Renata Tupinambá desenvolve um trabalho realizado em três partes. Primeiro, torna os espaços externos da galeria mais afeitos à permanência, para em seguida propor shows, performances e conversas que visam aprofundar e ampliar as questões do território de Brumadinho e Minas Gerais. Por fim, a partir do conteúdo da programação, cria uma peça de “imagens sonoras”, oferecendo ao visitante um trajeto guiado por histórias e sons daquilo que está presente, mas não é totalmente visível no território do Inhotim. Olinda Silvano, por sua vez, realiza uma obra de grandes dimensões que conecta o espaço interno à exterioridade da galeria. A partir da Amazônia peruana, a artista cria no Inhotim, especialmente para a exposição, um kené — arte gráfica do povo Shipibo-Konibo — cujos padrões são compostos por geometrias e linhas que apresentam a cultura e cosmologia Shipibo-Konibo. A prática do kené é exercida majoritariamente por mulheres, sendo passada de geração em geração, no que se constitui uma importante ferramenta de educação e cura. Em sua diversidade de formatos e linguagens, o Programa Público abre espaço para a complexidade dos sistemas indígenas por meio da oralidade, da imaginação e da presença.

 

A Galeria Claudia Andujar I Maxita Yano tem a Vale como Mantenedora Master por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura e a Parceria Institucional da Embaixada e do Consulado da Colômbia e do Peru e do Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe – CAF.

 

SOBRE OS ARTISTAS 

 

Aida Harika Yanomami é cineasta e faz parte do coletivo de comunicadores Yanomami, criado em 2018 pela Hutukara Associação Yanomami. Co-dirigiu os curtas Thuë Pihi Kuuwi – Uma Mulher Pensando, e Yuri U Xëatima Thë – A Pesca com Timbó. Vive e trabalha em sua comunidade, na região do Demini, Roraima.

 

Alexandre Pankararu é produtor cultural, comunicador social, cineasta, designer e programador, pertencente à nação Pankararu. Atualmente é coordenador de comunicação da APOINME (Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo). Foi formador audiovisual no projeto “Vidas Paralelas Indígena”, pela Universidade de Brasília (UnB), de 2012 a 2014, responsável pela codireção, câmera e edição do curta O rio tem dono (2012), codiretor do longa My Bloond is Red (Needs Must Film). Foi comunicador na Conferência Nacional de Políticas Indigenista, em 2015, das etapas local e regional do Baixo São Francisco, Nordeste I e Bahia Sul. Foi vídeo maker do curso de formação em Política Nacional de Gestão Territorial indígena, Nordeste Minas Gerais e Espírito Santo, realizado pelo PNUD, GATI, Funai e MMA entre 2014 e 2015. Assinou a codireção, câmera e edição do curta Terra Nua, de 2014, na Bienal de Cinema Indígena Aldeia SP em 2016. Foi codiretor e editor do curta Mãos de Barros (2016) e cineasta monitor no projeto Cinema de Índio, entre 2018 e 2019.

 

Claudia Andujar, nascida na Suíça em 1931, teve infância próxima à família paterna, de ascendência judaica, em uma região entre a Romênia e a Hungria. O contexto da Segunda Guerra Mundial conferiu-lhe a perda de seus familiares, vítimas do extermínio nazista. Em 1944, Claudia e sua mãe conseguem fuga para a Suíça e, anos depois, a artista migra para os Estados Unidos, onde se dedica aos estudos em humanidades no Hunter College e atua como intérprete nas Nações Unidas, em Nova York. Nesse período, casou-se com o refugiado espanhol Julio Andujar. Em 1955, chega ao Brasil para reencontrar sua mãe, optando por permanecer no país. A imersão na cultura brasileira, facilitada pela fotografia, configurou-se como ferramenta essencial em suas viagens por diversas regiões do território nacional. No final dos anos 1950, Andujar inicia sua trajetória profissional como fotojornalista. Seu primeiro contato com o povo Yanomami ocorreu em 1971, durante a produção de uma reportagem para a revista Realidade, em edição especial dedicada à Amazônia. Diante da devastação ambiental e das ameaças à integridade do povo Yanomami, a artista direcionou seu trabalho para a militância. Fundou a Comissão pela Criação do Parque Yanomami (CCPY), articulando mobilizações da sociedade civil e desenvolvendo projetos de assistência social. Sua produção visual junto aos Yanomami transcende a documentação, configurando-se como testemunho do aprofundamento de sua relação com a cosmogonia desse povo e instrumento de resistência para a preservação da cultura e do território.

 

David Díaz Gonzales é um fotógrafo do povo Shipibo-Konibo de Pucallpa, Peru. É formado em design gráfico digital, e atua com fotografia e cinema. Como fotógrafo, especializou-se em retratos, seguindo uma tradição indígena com a visão introspectiva do povo Shipibo, do qual faz parte. Por meio de sua fotografia, pretende mostrar uma visão íntima e genuína dos povos indígenas, para que seu trabalho possa narrar o povo Shipibo-Konibo para as gerações futuras — sem os estereótipos que constroem uma falsa narrativa sobre sua comunidade.

 

Denilson Baniwa é amazônida da nação Baniwa, é natural da região do rio Negro, interior do Amazonas. É artista-jaguar e atualmente reside no Rio de Janeiro. Tem como base de trabalho a pesquisa sobre aparecimentos e desaparecimentos de indígenas na História Oficial do Brasil, ao mesmo tempo em que busca nas cosmologias indígenas e suas representações artísticas um possível método de compartilhar conhecimentos ancestrais e ao mesmo tempo criar um banco de dados com essas cosmologias como modo de salvaguardá-las.

 

Edgar Kanaykõ Xakriabá é um artista indígena da etnia Xakriabá, compreendida entre os municípios de São João das Missões e Itacarambi, no estado de Minas Gerais, que pertence ao segundo maior tronco linguístico indígena do país, Macro-Jê da família Jê, subdivisão Akwẽ. Possui graduação na Formação Intercultural para Educadores Indígenas (Fiei/UFMG) e mestrado em Antropologia Social (Visual) na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Sua dissertação, Etnovisão: o olhar indígena que atravessa a lente (2019), é uma discussão acerca da utilização da fotografia pelos povos indígenas como instrumento de luta e resistência e o conceito de imagem, e é a primeira realizada por um pesquisador indígena em um programa de pós-graduação da UFMG. Sua composição se baseia em registros fotográficos de sua comunidade Xakriabá, de outros povos, assim como de manifestações do movimento indígena no país.

 

Edmar Tokorino Yanomami é cineasta e faz parte do coletivo de comunicadores Yanomami, criado em 2018 pela Hutukara Associação Yanomami. Co-dirigiu os curtas Thuë Pihi Kuuwi – Uma Mulher Pensando, e Yuri U Xëatima Thë – A Pesca com Timbó. Vive e trabalha em sua comunidade, na região do Demini.

 

Ehuana Yaira Yanomami é artista plástica, pesquisadora e liderança que tem ganhado destaque fora de seu território como ativista pela defesa da floresta e de seu povo Yanomami, em especial pelas denúncias feitas contra abuso sexual de mulheres Yanomami por garimpeiros. Nasceu na floresta amazônica, no território Yanomami, onde continua vivendo na grande casa coletiva de Watorikɨ, junto a seus familiares.

 

Elvira Espejo Ayca é uma artista, poetisa, tecelã e diretora do Museu Nacional de Etnografia e Folclore de La Paz até 2020. No mesmo ano, foi vencedora conjunta da Medalha Goethe por melhorar o intercâmbio cultural. É aymara e quéchua e fala as línguas aimará e quíchua. Aborda a vida social dos objetos em grandes temáticas como vestimenta, linguagens e poéticas, alimentação, música, água, espiritualidade e corporalidade e espaço social.

 

Graciela Guarani é diretora de cinema, curadora e professora pertencente à nação Guarani Kaiowá. Seu trabalho promove a visibilidade dos povos indígenas por meio do audiovisual, expondo suas lutas, pensamentos, modos de vida e enfatizando o protagonismo feminino. Graciela Guarani aposta no cinema como ferramenta crucial para as lutas sociais, sobretudo indígenas. Com seus filmes e aulas, apresenta imaginários alternativos e em conflito com os modos coloniais de perceber o mundo.

 

Hutukara Associação Yanomami (HAY) é a organização mais representativa dos povos Yanomami e Ye’kwana, presidida pelo xamã e liderança indígena Davi Kopenawa Yanomami. Criada em 2004, ela é uma das mais atuantes organizações indígenas no Brasil, exercendo um papel de articulação política e gerindo projetos voltados à proteção territorial (sobretudo frente à invasão do garimpo ilegal), manejo etnoambiental, saúde, formação, pesquisa e outras iniciativas com parcerias nacionais e internacionais envolvendo organizações públicas e civis.

 

Joseca Mokahesi Yanomami é artista, vive e trabalha na comunidade Buriti, na região do Demini. Joseca fundou, na década de 90, a primeira escola Yanomami de seu grupo, incentivando crianças no aprendizado da escrita e no estudo de línguas e participou da produção de inúmeros folhetos bilíngues (yanomami/português) para programas de educação escolar e de saúde, além de ser um dos primeiros Yanomami a trabalhar na área da saúde, atendendo sua comunidade. No começo dos anos 2000, Joseca passou a se dedicar de forma mais aprofundada ao trabalho artístico com desenhos que ilustravam elementos e histórias da vida, do cotidiano, do contexto e da cosmologia Yanomami. Desde então, tem participado de diversas exposições nacionais e internacionais divulgando a cultura e luta Yanomami.

 

Julieth Morales é uma artista colombiana da comunidade Misak e professora de arte indígena contemporânea na Faculdade de Criação da Universidad del Rosario. Seu trabalho plástico questiona o papel feminino de sua comunidade indígena e a construção de sua identidade a partir da miscigenação. Mestre em Artes Plásticas pela Universidade de Cauca, investiga o gênero feminino e o modo como ele é tensionado e encontrado entre sua cultura ancestral e a ocidental. Julieth recorre aos rituais sociais, políticos, religiosos e culturais da comunidade Misak, para destacar expressões corporais e artísticas. Realiza trabalhos em performance, vídeo, tecelagem, fotografia, serigrafia e instalação.

 

Lanto’oy’ Unruh é um artista paraguaio pertencente à comunidade Enlhet Ya’alve-Saanga, localizada no Chaco Paraguaio, na cidade de Loma Plata. Tem uma profunda conexão com as tradições e a natureza de sua terra, o que se reflete em sua obra multifacetada. Utilizando técnicas de ilustração digital, fotografia, pintura a óleo e vídeo, ele se dedica a preservar e promover as crenças e tradições da comunidade Enlhet, além de destacar a importância do ambiente natural que os cerca. Lanto’oy’ é membro ativo do Instituto Nengvaanemkeskama Nempayvaam Enlhet (“Faz crescer nossa língua Enlhet”), uma organização dedicada à reflexão e promoção da língua e cultura Enlhet. Atualmente, trabalha ativamente para o fortalecimento do coletivo E-NNEGKO’O Coletivo de Arte e Cultura, que reúne as comunidades Enlhet e Toba-Enenlhet do Chaco Paraguaio, pertencentes à família Maskoy. Desde 2023, integra a Associação Raízes Vivas, que promove a cultura paraguaia a partir de uma perspectiva sensível, criando espaços itinerantes de troca de saberes em áreas como gastronomia, línguas, flora, festividades, arte popular e arte indígena, com atuação no Paraguai, Costa Rica, França, Portugal e Estados Unidos. Um dos primeiros projetos desenvolvidos em conjunto foi o registro de EL MAANENG, uma dança acompanhada de cantos e sons que refletem parte da cultura dos povos Maskoy. Esse feito representa um marco importante, pois todo o registro e gestão foram realizados por membros da própria comunidade, incluindo líderes, artistas e gestores culturais. Essa primeira etapa consolida Lanto’oy’ como um guardião de sua cultura e um promotor da riqueza de seu povo.

 

Morzaniel Ɨramari Yanomami é cineasta, documentarista, intérprete e tradutor. Foi coordenador de comunicação da Hutukara Associação Yanomami. Entre seus filmes premiados, destacam-se Casa dos Espíritos – Xapiripë Yanopë (2010), Urihi Haromatimapë – Curadores da Terra-Floresta (2014) e Árvore do Sonho – Mãri Hi (2023), inspirado no livro A Queda do Céu, de Davi Kopenawa, sendo premiado por este filme no festival de cinema É Tudo Verdade como melhor documentário de curta-metragem.

 

Olinda Reshinjabe Silvano é uma artista do povo Shipibo-Konibo do Peru, que alcançou reconhecimento nacional e internacional por seus bordados coloridos, pinturas e murais de extraordinária beleza e luz. As linhas de kené não são meros gráficos geométricos abstratos; são a materialização da força koshi das plantas e seus ibo, os donos espirituais da floresta, que mulheres visionárias, como Olinda, veem em suas mentes e mostram em suas obras. Para Olinda, seu trabalho como artista shipibo-konibo contemporânea é uma forma poderosa de ativismo que usa a linguagem das plantas para lutar contra a discriminação e defender a Amazônia e seus povos.

 

Oneron Yanomami é professor da escola de sua comunidade na região do Demini, onde vive e trabalha.

 

Paulo Desana é cinegrafista e fotógrafo indígena do povo Desana. Como fotógrafo, é colaborador da agência de notícias Amazônia Real. Atualmente, está à frente do projeto fotográfico Pamürimasa (Os Espíritos da Transformação). Paulo Desana participou da 4ª edição do Festival Arte como Respiro, do Itaú Cultural, na categoria Artes Visuais, apresentando a série fotográfica E nós Parente?. A exposição foi realizada de forma virtual no site do Itaú Cultural. O artista foi o diretor de fotografia do minidocumentário Ciência e Culinária (Cooking and Science) sobre a formiga Maniuara na cultura dos Povos Hupdas, atuou como cinegrafista no documentário Cobra Canoa, e no curta de ficção Wuitina Numiá (Meninas Coragem), premiado no Festival de Cinema Independente de San Antonio, no Equador, como melhor curta-metragem de 2022. Desana também foi cinegrafista do documentário O Dabucuri, ambos produzidos pela Shine a Light (USA)/Usina Da Imaginação (Brasil).

 

Renata Tupinambá é jornalista, produtora, poeta, consultora, curadora, roteirista e artista visual. Atua há 15 anos na difusão das culturas indígenas por meio de projetos e etnocomunicação. É membro do projeto Levanta Zabelê, comunidade localizada em Una, na Bahia. Foi co-fundadora da Rádio Yandê, primeira web rádio indígena brasileira. É fundadora da produtora indígena Originárias Produções e criadora do Podcast Originárias, de entrevistas com artistas e músicos indígenas, que integra a central de Podcasts femininos PodSim.

 

Roseane Yariana Yanomami é cineasta e fez parte do primeiro grupo de jovens escolhidos para participar das oficinas de formação em audiovisual, em 2018, do coletivo de comunicadores Yanomami, criado pela Hutukara Associação Yanomami. Co-dirigiu os curtas Thuë Pihi Kuuwi – Uma Mulher Pensando, e Yuri U Xëatima Thë – A Pesca com Timbó. Vive e trabalha em sua comunidade, na região do Demini.

 

Salomé Ohotei Yanomami é moradora da grande casa coletiva de Watorikɨ, onde vive e trabalha.

 

Tayná Uràz é artista visual, trabalha com fotografia, instalação, audiovisual e pesquisas de imagens. Investigando composição imagética das memórias como instrumentos de registro documental e de criação de ficções. Entre a expansão da presença e os sonhos, relaciona espiritualidade, território, natureza e ancestralidade.

 

Tiniá Guarani Pankararu é artista visual e performer Guarani Pankararu. Ainda muito cedo desenvolveu seu processo criativo a partir da vivência com seus pais que são multi-artistas e comunicadores. Fez sua primeira exposição de forma virtual no período da pandemia, com 9 anos de idade. Tiniá habita o território indigena Pankararu (PE), mas vive em trânsito entre Pankararu e seu outro povo Guarani e Kaiowá, no Mato Grosso do Sul. Já atuou em mais de dois trabalhos audiovisuais artísticos em 2024: a videoarte Xe Ñe’e, e o longa-metragem experimental Horizonte Colorido.

 

UÝRA é indígena em diáspora, dois espíritos (Travesti), habitante de Manaus, Amazonas, Brasil. É bióloga, mestra em Ecologia da Amazônia, e atua como artista visual e arte-educadora de comunidades tradicionais. Mora em um território industrial no meio da floresta, onde se transforma para viver uma Árvore que Anda, sempre criada com elementos orgânicos. UÝRA utiliza o corpo como suporte para narrar histórias de diferentes naturezas via fotoperformance, performance e instalações. Tem interesse pelos sistemas vivos e suas violações e, a partir da ótica da diversidade, dissidência, do funcionamento e adaptação, (re)conta histórias naturais, de encantarias e diásporas existentes na paisagem floresta-cidade.

SERVIÇO

Galeria Claudia Andujar | Maxita Yano
Exposição coletiva com Aida Harika Yanomami, Alexandre Pankararu, Claudia Andujar, David Díaz Gonzales, Denilson Baniwa, Edgar Kanaykõ Xakriabá, Edmar Tokorino Yanomami, Ehuana Yaira Yanomami, Elvira Espejo Ayca, Graciela Guarani, Joseca Mokahesi Yanomami, Julieth Morales, Lanto’oy’ Unruh, Morzaniel Iramari Yanomami, Olinda Silvano, Oneron Yanomami, Paulo Desana, Renata Tupinambá, Roseane Yariana Yanomami, Salomé Ohotei Yanomami, Tayná Uràz, Tiniá Guarani Pankararu e UÝRA.

A partir de 26 de abril de 2025, sábado
Em exibição por tempo indeterminado
Classificação indicativa: livre
Curadoria: Beatriz Lemos

Curadoria de Programa Público: Marilia Loureiro
Assistência curatorial: Varusa