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Claudia Jannuzzi

A fotógrafa Martha Estima Scodro lançou recentemente a coleção de lenços estampados com suas fotos macro de flores. A renda é destinada voltada a instituições que apoiam mulheres com câncer de mama.

Em 2016, a fotógrafa e escritora lançou ‘A Flor da Pele’, livro que reunia suas fotos de flores captadas com lente macro (imagens em superclose).  Era uma celebração – dez anos do diagnóstico de câncer de mama. O livro era, como ela diz, “uma história contada apenas na emoção”. As imagens impressas se desdobraram em outra criação: Martha estampou em seda pura as flores, criando lenços, faixas e echarpes de impacto – e também que atendem poeticamente à necessidade de muitas mulheres em tratamento quimioterápico e que perdem os cabelos. “Quis criar algo que iluminasse uma mulher no seu dia mais pesado”, conta Martha. “Ou que a fizesse brilhar com mais intensidade num dia já maravilhoso. Criando momentos de refúgio, conforto emocional e beleza”.

Em parceria com a designer gráfica Tita Nigri, trabalharam fotos e grafismos criando estampas. O tecido escolhido foi a seda pura, mágica milenar produzida por uma lagarta que tece dentro de um casulo. Quando aberto, o casulo contém um único e longo fio que pode medir até mil metros. Macio, resistente e leve – tudo ao mesmo tempo. Um fio de seda tem resistência comparável a uma liga de aço de alta qualidade. E também é extremamente maleável, podendo ser esticada  até cinco vezes seu comprimento original sem quebrar.

Desenvolvidos em processo sustentável (a estamparia não polui o meio ambiente, reciclando a água utilizada), os lenços, segundo Martha, “foram pensados para serem usados ao redor do colo, no cabelo, nos ombros, amarrados no pulso, na bolsa, enfeitando, envolvendo, protegendo, acariciando – uma extensão do livro A Flor da Pele”. Martha se considera uma editora – que vai  além das publicações gráficas, editando e criando produtos para  que criam momentos de refúgio e conforto, para restaurar forças e continuar o caminho. E lança, com os lenços, a marca editorial MARES.

Os lenços vêm acondicionados em caixinhas com todas as informações sobre a flor retratada. Vendas diretas: 21-99173-7989 – martha@maresdeditora.com.br@mareseditora


Confira a entrevista:
QUAL FOI SUA MAIOR MOTIVAÇÃO PARA DAR INÍCIO A ESSES PROJETOS, TANTO DO LIVRO COMO DO LENÇO?

A maior motivação foi ter encontrado dentro de mim esta força criativa, mesmo 10 anos depois. Num mundo de tanto imediatismo e da banalização da palavra superação, me sentia um pouco deslocada por não realizar grandes ações.

Sempre admirei quem, após passar por uma situação delicada de saúde, produzia algo grandioso como correr uma maratona, fazer um trekking no Himalaia, se engajar pessoalmente fundando instituições, etc.

Quando alguém me perguntava o que fiz para superar o câncer de mama, ficava sem palavras. E as pessoas um pouquinho decepcionadas. Minhas ações são pequenas, por isso levei alguns anos para elaborar este período da minha vida.

E foi neste diálogo interno, nesta elaboração frase a frase que aconteceu este livro de poucas palavras, onde cada um pode criar seu próprio diálogo interno quando manuseia as páginas.

Os lenços foram uma sugestão de uma amiga, e achei maravilhoso, pelo sentido deles, do aconchego que um pano cria sobre os ombros, e por ser um acessório que pode iluminar um dia cinza e fazer a mulher brilhar ainda mais num dia luminoso.

Um post-it colado no meu computador me lembra o tempo todo Ferreira Gullar: “A arte existe porque a vida não basta”.

APÓS O DIAGNÓSTICO DO CÂNCER DE MAMA, O QUE VOCÊ ACHA QUE SE MODIFICOU EM VOCÊ NO MODO DE VER O MUNDO DE FORMA MAIS SIGNIFICANTE E DEFINITIVA?

Eu diria que depois que passa a turbulência a gente de algum jeito esquece e volta a se preocupar com as insignificâncias do dia a dia. Mas, de tempos em tempos, por conta de exames, check-ups e mesmo momentos de um recolhimento interno, a consciência de que a vida pode se transformar num piscar de olhos, faz acordar e entender que o melhor de tudo é estar vivo. Com marcas, cicatrizes, mas sem ressentimentos. Ter a memória, mas não a dor da memória.

QUAL SERIA O SEU CONSELHO EM SE TRATANDO DE EMOÇÕES PARA DAR FORÇA A QUEM VIVE HOJE O TRATAMENTO DO CÂNCER DE MAMA?

Não tenho conselhos, cada um passa as fases difíceis da vida de uma forma muito pessoal. Posso dividir o que eu ouvi de algumas pessoas e que me ajudou, e o que eu ouvi e não me ajudou.

Me ajudou muito saber que o que julgava ser o fim do mundo, podia ser que não fosse. Que eu não era uma pessoa azarada, ou pouca abençoada, e sim, que isto foi o que eu precisava viver.

Que uma pessoa medrosa de tudo, de avião, de aventuras, de barcos, era capaz de tanta coragem para enfrentar o tratamento. Gosto de frisar que só fiz radioterapia e terapia hormonal, por isso nem posso imaginar o que é passar por uma quimio. E meu respeito e admiração por quem enfrenta este tratamento não tem tamanho.

Uma vez ouvi uma pessoa responder, quando perguntada se tinha uma doença auto-imune, que ela tinha a doença, mas a doença não a tinha. Isto para mim foi divisor de águas. Eu tive muitas coisas, mas as coisas não me têm.

O que não me ajudou foi a insistência com que quase se ordena a uma pessoa extremamente fragilizada a “pensar positivo”. Gosto de por entre aspas para diferenciar de “ter uma atitude positiva diante de dificuldades”.

É quase uma negação do que o outro está sentindo, porque há dias muito pesados e todos devem entender e acolher estes momentos.


Fotos: Cristina Granato