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Por Bruna Faro

A revista A Mais Influente, conversou com o diretor José Pedro Lopes, direto de Portugal. Falamos sobre seu filme “A Floresta das Almas Perdidas”, sua profissão, sua relação com o cinema e até com o Brasil!

José é português, amante dos filmes de terror e admira até o Zé do Caixão! Segundo ele, o que o agrada no terror é a reação que causa no público, com sua narrativa inesperada, profunda e pessoal.

O português dirigiu “A Floresta das Almas Perdidas” que chegou recentemente no Brasil. O longa filmado todo em preto e branco, narra a história de uma floresta, onde pessoas se suicidam.

“Numa floresta densa e remota, o local mais popular para a prática do suicídio em Portugal, dois estranhos conhecem-se. Ele é um pai de família à procura do local onde a sua filha morreu. Ela é uma jovem com uma paixão pela morte. Mas um deles não é quem diz ser”. É o que diz a sinopse.

Para José, o filme é a junção de duas histórias que sempre quis contar. A produção foi bem recebida pela crítica e chegou a ser rodada em vários países, como Estados Unidos, Brasil e Portugal. Além de ter sido Top de 2017 pela Variety nos filmes de terror, ganhou o prêmio de melhor filme no festival Fant Bilbao, da Espanha.

Orgulhoso por estar conquistando seu espaço, José ama o que faz e compartilha um pouquinho de sua profissão e gosto pessoal nessa conversa internacional. Confira!

 

 

Como surgiu a ideia desse projeto? 

‘A Floresta’ surgiu como a combinação de duas histórias que queria contar. Uma era sobre uma família que lidava com a perda de uma filha que se tinha suicidado. A outra era uma história sobre uma pessoa malvada que tirava vantagem de luto dos outros. Naturalmente as duas histórias se fundiram numa narrativa só.

 

Com as taxas de suicídio aumentando no mundo, qual a importância de abordar um tema tão delicado?

A verdade é que o suicídio se tornou menos tabu, mas também se tornou mais trivial. O peso que tinha pela religião católica, ou pelo lado místico japonês, foi também “danificado” pela cultura popular. O vilão de “A Floresta” pega muito nesse lado “pop” e plástico que até o suicídio consegue ter. No entanto creio que o suicídio é um dos grandes mistérios do comportamento humano – nunca pensaríamos que uma pessoa faria até ter feito. E quando alguém o faz, isso nos assombra mais do que a morte por doença ou até por homicídio.

 

Quanto tempo demorou a filmagem?

“A floresta” foi filmada em várias partes, num total de 3 semanas de rodagem divididas em uma no verão, uma no inverno, e vários dias soltos. Curioso se pensarmos que a história se passa num dia só. Mas para nós era mais fácil organizar assim.

 

Como foi a escolha dos atores?

A Daniela Love já tinha trabalhado conosco num registo com muita conversa e comédia mas mais “naif”. A transição dessa personagem para alguém ‘dark’ e maquiavélico foi divertida e algo que fazia parte do filme na sua origem. Ela foi a única escolha para o papel. O Jorge Mota, que faz do pai da família, foi uma surpresa enorme: ele é um ator com uma voz e uma presença muito forte, e que elevou o lado dramática da narrativa.

 

Porque escolheu fazer cenas em preto e branco?

O tema do filme é a tristeza, e o preto e branco contribui para a melancolia do filme. Tem o papel de descolorir um mundo sem esperança.

 

Qual sua relação com o terror no cinema?

Eu sou um grande fã de cinema de terror e tenho muita vontade de fazer filmes nesse estilo, mas abordando-o com ambição artística. “A Floresta” percorre territórios de filmes como “Halloween” de John Carpenter ao ter um louco que ataca uma casa, ou de “Audition” de Takeshi Miike, pela tortura de uma pessoa mais velha. Mas no final é uma história pessoal.

O terror é um gênero divertido e com impacto. Creio que gosto que provoque tanta reação no público.

 

Qual foi sua reação ao ser indicado e receber diversos prêmios em festivais na Europa?

Foi uma ajuda muito grande para o filme, ter sido distribuído esses prémios. Fico sempre surpreendido, até mais com ter sido Top de 2017 pela Variety nos filmes de terror e ter tido uma crítica boa e forte na revista. Isto porque é um filme pequeno e com muita tracção. Muita gente não o leva a sério, ou não gosta dele por ser de terror e ser estranho. Mas existem esses grandes reconhecimentos externos que te dizem o contrário. O cinema não é uma arte em que conseguimos um consenso fácil.

 

Como você vê o cinema português no mundo?

O cinema português ainda está em evolução – creio que no mundo é respeitado pela sua qualidade, mas falha em ter um lugar junto do público. Em Portugal é pior – o cinema português que vende é quase só o que vem da televisão. Não conseguimos ainda criar uma hábito e uma tradição de cinema nacional.

 

Para quais países o filme foi divulgado?

“A Floresta” já saiu um pouco por todo o lado. Nos EUA esteve nos cinema assim como em Portugal. No resto do mundo foi publicado em VOD e SVOD; com algumas edições em DVD e uma em Bluray. Não esperava chegar a tanta gente com um filme tão pequeno.

 

O que você achou de o filme estar rodando no Brasil?

Foi uma grande felicidade – o cinema brasileiro é vasto e diverso, e há muita boa tradição de terror. E temos a ligação do idioma – que não é perfeita mas existe. Sinto que é um país onde este filme não é visto como uma obra de um país raro, mas sim com curiosidade. Fico muito feliz.

 

Qual a sua expectativa da reação do público brasileiro?

Creio que os brasileiros tem uma ideia que os portugueses são tristes e depressivos, e “A floresta” vai totalmente de encontro a essa ideia.

 

Existe algum projeto que você tenha em mente que envolva uma produção com Portugal e Brasil?

No momento não tenho nenhum projeto que envolve trabalhar com o Brasil – é algo a mudar!

 

Conhece o Brasil, já esteve aqui?

Já estive no Rio de Janeiro assim como no Nordeste – o típico turista português.

 

O que você mais gosta no cinema brasileiro?

Gosto muito dos filmes do Walter Salles e, no fantástico, da obra do mítico Zé do Caixão. Tenho visto em festivais de filmes muito curiosos, como delírios do género de “A Repartição do Tempo”. Mas é curioso – o cinema brasileiro chega pouco a Portugal. Adorei o “Aquarium” do Kebler Mendonça também.

 

Um conselho para quem deseja fazer cinema.

É uma arte de equipe e que demora muito tempo e dá muito trabalho. Se tens muita paixão vale a pena – mas se és só impulsivo é uma arte muito complicada.

 

//www.youtube.com/watch?v=GJeL_vi9EQ8