A artista recentemente lançou o podcast “Piquezin da Julia”, com sets musicais temáticos; o próximo episódio vai ao ar na sexta (21) e contará com faixas cantadas apenas por mulheres
A DJ e cantora carioca Julia Bacellar despontou no cenário eletrônico e do funk há poucos anos, mas já colhe os frutos de sua trajetória na música. Mesmo já tendo conquistado seu espaço na cena, ela pretende chegar ainda mais longe e realizar diversos sonhos ao longo da carreira.
Atualmente, ela é a aposta da Hitzada, gravadora e produtora do DJ Rennan da Penha, e da Sony Music, que dá suporte nos lançamentos dos singles nas plataformas digitais. Um dos seus mais recentes lançamentos é o podcast musical “Piquezin da Julia”, dividido em quatro sets temáticos. O próximo episódio, que vai ao ar nesta sexta (21), contará com faixas cantadas apenas por mulheres.
Aliás, suas maiores inspirações na música são mulheres, como a Anitta. Entre as DJs, a brasileira Larissa Law e a americana Dani Leigh são suas principais referências. Julia defende a representatividade feminina no funk com frequência nas redes sociais. “Muitas meninas e mulheres têm vontade de ser artistas de funk, mas enxergam um espaço ocupado por homens e não se sentem representadas. É preciso acabar com essa ideia. Nós, mulheres, podemos estar em qualquer lugar e nenhuma cena deve ser delimitada por gênero”.
Ela também ressalta a importância da união entre as mulheres dentro da cena. “Queria muito que as mulheres fossem mais unidas no meio do funk, para que uma ajude a outra e a gente consiga fazer trabalhos cada vez mais incríveis. Os homens sempre são muito unidos, querendo ou não. Eles fazem feat, gravam canções uns dos outros, viajam juntos. Precisamos deixar de lado essa rivalidade feminina que existe entre a gente. Quando percebermos a força que temos, vamos dominar tudo.”
Ela revela que o fato de ser mulher pesou em sua caminhada dentro do universo artístico. A DJ e cantora, inclusive, confessa que já enfrentou diversos episódios de machismo. “O funk é um meio cercado por homens, tanto da parte de produção, por trás dos palcos, quanto dos artistas mesmo. Por isso, acaba sendo machista, mas não é exclusivo do ritmo musical. Outros estilos como a MPB, o rock e o pagode também são, assim como praticamente todos os lugares da nossa sociedade”, reforça. Ela conta com detalhes um dos casos mais marcantes.
“Certa vez, um contratante me perguntou por que eu tinha ido me apresentar de calça. Ele queria que eu estivesse ali simplesmente para mostrar minha bunda. Provei para ele que não estava ali para isso. Posso mostrar minha bunda ou não, a escolha é minha enquanto artista. Mas mereço o mesmo respeito como qualquer outro profissional, independente da roupa que estou vestindo.”
No começo de sua carreira, o assédio praticamente fazia parte da rotina. “Todas as mulheres do mundo vão dizer que já sofreram assédio. Todas, todas, todas. É um problema estrutural. E eu já sofri por parte de contratantes e pela própria plateia, por acharem que roupa é convite. Os homens acreditam que, por eu estar dançando e rebolando, aquilo ali é para eles, especificamente para eles, e isso não pode acontecer. Não estamos no palco para satisfazer a vontade de homem nenhum”, destaca Julia.
Conforme foi se tornando mais conhecida na cena, as pessoas passaram a entender sua postura e as situações de preconceito pararam de acontecer com tanta frequência. Mesmo assim, a artista ainda sente que precisa se provar mais do que os homens para conquistar seu espaço. “As mulheres sempre precisam provar duas vezes mais o porquê de estarem ali no palco, qual é o seu mérito e seu valor”, lamenta.
Após assinar com uma produtora e gravadora influente, ela conta quais são os próximos passos na carreira para alcançar voos mais altos. “Assim que acabar a pandemia, desejo voltar aos palcos com um formato diferente de show. Quero mostrar todas as minhas facetas para me tornar uma artista completa. Não pretendo só tocar. Planejo cantar e dançar bastante também”, promete. “Para isso, vai ser necessário muito empenho e trabalho, pensar fora da caixa e sempre analisar as infinitas possibilidades de criação. Estudando, insistindo, errando e acertando.”
Com suas conquistas, quer inspirar outras mulheres a serem artistas e investirem em seus talentos. “Não existe essa de espaço para homens e mulheres. O espaço é de todo mundo e se você tem talento e acredita no seu sonho, te indico a ir até o fim. Para nós, mulheres, nunca é fácil. Mas não desistam por isso”, aconselha. “O funk é de todo mundo. É das mulheres, dos homens, do preto, do branco, do homossexual, do bissexual, do hétero. O funk é um ritmo democrático que consegue abraçar a todos. Batalhe sempre para conquistar a sua voz”