De acordo com a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), o índice de pessoas com diabetes tipo 2, saltou de 5% para 7,7%, em dois anos. O Brasil tem cerca 12,5 milhões de pessoas que sofrem com a doença, ocupando o 4º lugar dentre os países com maior incidência. No mundo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que 1 em cada 11 pessoas no mundo tem diabetes, e esse número só cresce. Estima-se que em 2040 haja um aumento para 642 milhões de pessoas atingidas pela doença.
Segundo a endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Dra. Livia Porto, o aumento de casos e de diagnósticos são consequência do crescimento do sedentarismo, maus hábitos alimentares e da obesidade em pessoas jovens. “Notamos cada vez mais cedo, pacientes adultos jovens sendo diagnosticados com a doença. Isso acontece, pois, o estilo de vida inadequado tem crescido e tem sido antecipado, por conta da falta de atividade física e do consumo de alimentos ultra e microprocessados. Outro ponto importante é o aumento da obesidade, uma doença totalmente relacionada ao diabetes”, explica. De acordo com Vigitel, o Brasil atingiu maior prevalência de obesidade (19,8%) nos últimos treze anos.
O diabetes tipo 2 é a principal causa de novos casos de cegueira, derrames cerebrais, infarto do miocárdio, amputações de membros, insuficiência renal e transplante renal no mundo. “O que pode levar o paciente a morte não é a descompensação da glicose no sangue, mas sim suas complicações”, comenta.
CUSTO PARA OS COFRES PÚBLICOS
Em 2017, os gastos com o diabetes representaram 1,1% do PIB nacional,, sendo de R$ 8 milhões, por hora, o montante responsável por complicações da doença, e cerca de R$ 53 mil, por hora, destinados às internações.. O dado coloca o Brasil no 6° lugar, entre os países que mais gastam com a doença no mundo. “É preciso investir em prevenção desde a infância e aumentar a adesão ao tratamento e outras terapêuticas, como a cirurgia metabólica, quando tratamento clínico não alcança resultado”.
TIPOS
O Diabetes Mellitus tipo 2 tem origem na resistência insulínica, que acontece quando o organismo não consegue mais usar adequadamente a insulina, hormônio que controla a taxa de glicemia nas células, sobrecarregando o pâncreas. Ao longo do tempo, esse quadro causa a falência do órgão, que deixa de produzir o hormônio, levando ao diagnóstico deste tipo de diabetes. Já o Diabetes tipo 1, geralmente é diagnosticado na infância ou na adolescência e acontece quando o sistema imunológico ataca as células do pâncreas, comprometendo a liberação da insulina e aumentando assim os níveis de glicose no sangue.
Existe também o pré-diabetes, que atinge 40 milhões de pessoas e 25% delas se tornarão diabéticos em até cinco anos. Com o acompanhamento anual de um médico clínico geral ou endocrinologista, realização de exames laboratoriais de rotina, como os de glicemia de jejum e hemoglobina glicada, e avaliação de IMC (Índice de Massa Corpórea) e circunferência abdominal, é possível prever esse estado e evitar a progressão da doença.
FATORES DE RISCO
No Brasil, 90% dos casos de diabetes são do tipo 2 e 89% deles estão relacionados a hereditariedade. Alimentação inadequada, rica no consumo de carboidratos e de alimentos processados, sedentarismo, obesidade, histórico familiar da doença e estresse são fatores de risco importantes para o desenvolvimento do diabetes tipo 2. “O diabetes é uma doença silenciosa, 50% dos portadores desconhecem o diagnóstico devido à falta de sintomas”, explica Dra. Livia Porto.
TRATAMENTO
Nos últimos anos, novos medicamentos surgiram e ampliaram as opções para o tratamento desta enfermidade. Entre os fármacos que podem ajudar no tratamento estão os análogos do hormônio GLP-1 e os inibidores da SGLT-2, além de uma nova geração de insulinas. Uma nova geração de insulinas também tem melhorado a posologia para os pacientes. Algumas dessas novas medicações têm custo elevado, o que dificulta a adesão.
Além disso, mesmo com essas novas associações de medicações e insulinas é fundamental que o paciente siga o tratamento. “A adesão não é fácil, pois trata-se de uma doença crônica e progressiva, com muitas comorbidades. Ainda estamos longe de vencer a luta contra a doença”, aponta a endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Cerca de 70% dos portadores de diabetes tem dificuldades em tomar medicações e manter o estilo de vida saudável.
“Quando já diagnosticado, dependendo da gravidade, o diabetes pode ser controlado com a realização de atividade física e adoção de estilo de vida e alimentação saudável, mesma fórmula que evita o desenvolvimento da doença. Em outros casos, exige o uso de insulina e/ou outros medicamentos para controlar a glicose”, diz a endocrinologista.
Quando o tratamento clínico não consegue controlar adequadamente o diabetes, uma opção é a cirurgia metabólica. Atualmente, no Brasil, o procedimento é autorizado em casos de IMC acima de 30 kg/m², desde que o diabetes não esteja controlado com o melhor tratamento clínico disponível. Após a cirurgia, o índice de remissão da doença chega de 70 a 80% dos casos, com suspensão ou diminuição da medicação.