Viajar abre a cabeça, abre as perspectivas, abre o coração para novas possibilidades, abre um portal onde o seu mundo e o mundo onde você está circulando se misturam e a vida passa a não ter fronteiras. A viagem acaba fisicamente, mas traz os momentos, traz as sensações e aquela vibração permanece latente até ir aos poucos voltando para a vida. Você volta para a sua vida real.
E assim foi, cheguei no Brasil e me deparo com a triste notícia do assédio feito pelo ator José Mayer, um homem e profissional que já tive a oportunidade, mesmo que muito curta, de estar perto e jamais poderia imaginar esse momento. Mas ele aconteceu e acontece toda hora, em muitos lugares.
Em 1997 fui à Tókio por um mês com o cantor Lô Borges e presenciei uma cena no metrô que me deixou chocada e nunca consegui esquecer. O metrô lotado, eu sentada e entra um monte de meninas com uniformes, àqueles que a gente vê nos filmes. Pois é… E o metrô vai e elas ficam em pé de cabeça baixa, e pasmem, meninos e homens enfiam suas mãos debaixo das saias delas e elas não faziam nada – absolutamente nada! –, ficavam ali, de cabeça baixas, humilhadas, e sem poder fazer nada. Quando perguntei ao meu amigo brasileiro que morava lá o porquê daquilo, ouvi a pior resposta: – “É assim mesmo… Elas não podem reclamar…”. Naquele dia, quando cheguei ao apartamento onde estávamos hospedados, chorei. Pensei na minha filha e em todas as meninas do mundo que passam por isso e não podem fazer nada!
De lá prá cá houve muita evolução nesse sentido, leis foram criadas, delegacia de mulheres foram implantadas, mas, ainda assim, assistimos dia após dia a violência e o assédio persistirem. E até mesmo muitas vezes quando a mulher denuncia é posta em xeque mate, como se fosse a culpada, ou como se estivesse estimulado o agressor.
Quando isso vai parar? Quando os homens, e até mesmo as mulheres, que alimentam esse comportamento – sim, porque existem mulheres que alimentam esse comportamento ao criarem seus meninos dizendo que eles têm que pegar todas, que tem o seu pênis grande, e por aí vai – vão respeitar as mulheres simplesmente porque o respeito deve ser pelo SER HUMANO?
Tem muita água para rolar. Essa campanha #mexeucomumamexeucomtodas é muito bacana e louvável, mas não pode ficar só nas camisetas que as atrizes globais e funcionárias da TV estão usando, não dá para ficar só na crucificação do ator José Mayer, pois existem muitos Zés por aí e Susllem pelo mundo que não tem voz, que não ninguém para criar uma simples camiseta, que não podem nem chegar perto de uma autoridade porque são chamadas de facilitadoras e de outros nomes que nem dá para repetir aqui.
Vamos sim dar voz a essas mulheres, vamos sim ter atitudes MAIS INFLUENTES e recusar personagens na TV que diminuam a mulher. Sei que é um trabalho difícil, sei que as atrizes precisam trabalhar, mas os autores podem usar esse poder para criar obras que exaltem a mulher, que mostrem a sua força, a sua sensualidade sem a vulgarizar, sem a colocar no papel de vitima ou vilã e, principalmente, desconstruir, e desmoralizar essa sociedade machista.