Para os profissionais de alta performance, desafiar limites físicos pode gerar transtornos mentais e emocionais
Ao
contrário do que muitos pensam, o psicólogo não é somente o
profissional que compreende as
funções mentais no comportamento individual e social de cada pessoa, ele
estuda, também, os processos fisiológicos e biológicos que
acompanham o desempenho e funções cognitivas. Com isso, é possível
dimensionar a importância da psicologia para o esporte de alto
rendimento, que tem como objetivo extrair a melhor performance dos
esportistas.
“Atletas de alta performance estão sempre em busca da excelência e
sendo cobrados por desempenho e resultados. A pressão para
treinar, competir e vencer o ano inteiro é constante, além da obrigação
de estar sempre em forma, que também desestabiliza o indivíduo
emocionalmente. Visando a superação dos limites, custe o que custar, é
esperado que ele renda e que seu corpo seja cada vez mais
aperfeiçoado”, explica Bruno Vieira, psicólogo do esporte especializado
em Psicologia e Desempenho Esportivo pelo FC Barcelona.
Com métodos científicos para compreender a mente humana, atuar no
tratamento e prevenção de doenças mentais e melhorar a
qualidade de vida, a Psicologia do Esporte tem um grande potencial para
auxiliar o atleta em toda a sua trajetória profissional. “Além
da sobrecarga, ficar longe dos familiares e ter que lidar com a fama
pode gerar ainda mais ansiedade, estresse, medo, depressão e
distúrbios. Essa cultura de que o atleta é forte, capacitado e que
mantém suas emoções, ações e corpo sob controle precisa acabar”,
fala Bruno Vieira.
Segundo pesquisa realizada pela Federação Internacional
dos Futebolistas Profissionais (FIFPro), de 25 jogadores profissionais
de futebol, 9 podem mostrar sintomas de transtornos mentais comuns
como angústia, ansiedade ou depressão durante uma temporada intensa de
jogos.
Lesões que desencadeiam doenças
Após sofrer uma lesão, o atleta se mostra muito mais afetado
psicologicamente do que outros. Ainda de acordo com o estudo da FIFPro,
transtornos mentais têm prevalência maior em jogadores que sofreram três
ou mais contusões graves durante a carreira.
“O jogador desafia o limite do corpo para mostrar rendimento, o que o
aproxima da possibilidade de sofrer lesões. Quando ele
sofre essa lesão, sente-se pressionado a treinar e competir mesmo com
dores e machucado, o que dificulta a conquista de bons resultados.
Quando ele se enxerga incapacitado de exercer sua função no time e acaba
sendo afastado por dias, ou até meses, sua autoestima é afetada
de imediato, resultando em sentimentos e sensações de fraqueza e
impotência”, diz o psicólogo.
Bruno Vieira explica que, em alguns casos, o jogador pode ter até uma
crise de identidade por se preocupar se vai ou não se
recuperar, se isso resultará na perda do seu emprego e fim da sua
carreira. “É necessário conscientizar o profissional sobre o processo
de lesão e reabilitação. A dor psicológica, muitas vezes, é maior que a
dor física e pode durar por muito mais tempo. Os clubes
brasileiros e os empresários ainda precisam entender a importância deste
tipo de acompanhamento de forma constante, não somente quando
há interesses coletivos e, até mesmo, financeiros”, finaliza o
psicólogo.