Comportamentos tóxicos são um perigo, sobretudo, para as mulheres, as grandes vítimas do controle excessivo dos parceiros
Relacionamentos abusivos que desencadeiam em feminicídios estão cada dia mais presentes na realidade dos brasileiros e são pautas de jornais, revistas e portais de todo o País. Mas os primeiros sinais de violência nem sempre vêm acompanhados de agressão física e verbal claras.
Muitas vezes, os abusos começam de forma psicológica e silenciosa. Um simples controle sobre o lugar que a pessoa pode ir, com quem ela pode andar, ameaça de término da relação ou ciúme exagerado são exemplos de situações que podem evoluir para agressões físicas e até feminicídio.
O fato é que muita gente é vítima de relacionamento abusivo, mas não sabe identificar que vive uma relação tóxica. De acordo com Renata Arrepia, psicóloga e master coach da SBCoaching, o grande equívoco ainda está no fato de as pessoas associarem relacionamento abusivo a agressões físicas, sendo que existem diferentes formas de abuso – como o psicológico, o financeiro, o verbal. “Usar frases como: ‘você nunca vai conseguir’, ‘você não tem capacidade’; ou ‘é por isso que sua vida está desse jeito’, são exemplos de atitudes aparentemente inofensivas, mas altamente destrutivas da autoestima”, alerta Arrepia.
A Lei Maria da Penha, criada em 2013 para coibir e punir atos de violência doméstica contra a mulher, é considerada pela Organização das Nações Unidas (ONU) uma das três melhores legislações do mundo no enfrentamento à violência contra a mulher. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea, a lei contribuiu para uma diminuição de cerca de 10% na taxa de homicídios praticados contra mulheres dentro da casa das vítimas. Ainda assim, a taxa de feminicídio no País é de 4,8 para cada 100 mil mulheres: a quinta maior no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Apesar dos dados refletirem a realidade da maior parte das mulheres brasileiras, os relacionamentos abusivos também fazem vítimas entre o público masculino. “O homem costuma usar de força física contra a companheira, mas as mulheres usam de chantagem. Em casos de separação, por exemplo, elas usam os filhos para chantagear o marido, um tipo clássico de violência emocional”, ressalta a psicóloga.
Mas como identificar os primeiros sinais de um relacionamento abusivo?
Geralmente, ele tem dois fortes componentes: o controle e a dependência. O abusado tende a satisfazer o abusador de qualquer forma, tornando-se submisso e dominado, sobretudo quando está sob ameaça. A master coach aponta ainda alguns sintomas que podem ajudar a identificar um relacionamento abusivo:
Ciúme excessivo de tudo e todos sem razão, levando a pessoa a ficar emburrada ou agressiva;
Invasão da individualidade e privacidade do(a) parceiro(a). Quer saber a senha do celular, das redes sociais, liga inúmeras vezes para saber onde está, com quem, o que está fazendo;
Controle total sobre a vida do outro;
Afastamento do(a) parceiro(a) da família e dos amigos, com a justificativa de querer passar mais tempo juntos;
Constrangimento na frente de outras pessoas;
Interferência na forma de se vestir, no corte de cabelo, na maquiagem. Acredita que a(o) parceira(o) quer chamar a atenção dos outros;
Desmotivação constante do outro, abalando sua autoestima.
E como sair de um relacionamento tóxico?
Não é tarefa fácil, mas é possível. Quem passou ou está passando por isso pode começar praticando o autoconhecimento e evidenciando suas virtudes e forças de caráter (sabedoria, criatividade, coragem, humanidade, justiça). Como? Por meio da psicologia positiva, a ciência que estuda a felicidade e o bem-estar humano, por meio do que ele tem de melhor, suas qualidades e potencialidades.
Segundo Renata, conhecer a si mesmo, trabalhando o medo, a superação, o recomeço e a independência, é a melhor forma de desenvolver a autoconfiança e autoestima para superar dores e traumas. “Conhecendo nossas forças, conseguimos ativar emoções positivas que potencializam o relacionamento, aumentam os níveis de bem-estar e nos enchem de coragem para lutar pelo que queremos e merecemos”, afirma.
Para sair de um relacionamento abusivo, a psicóloga e master coach dá algumas dicas e orientações:
O primeiro passo é: reconheça que está em uma relação tóxica, que está te fazendo mal e te impedindo de viver plenamente;
Peça ajuda de um profissional que vai colaborar com você e te ajudar a tomar as melhores decisões;
Reestabeleça seus contatos sociais com a família e amigos;
Tenha coragem, afaste-se do(a) abusador(a) e não deixe que as ameaças e abusos psicológicos impeçam de seguir em frente;
Cuide da autoestima. Quando se está sob o efeito de um relacionamento abusivo, a pessoa não percebe que não está se dando o valor. Não permita que ninguém tenha controle sobre sua vida;
Seja cautelosa(o). Se estiver pensando em se separar, não deixe o(a) parceiro(a) desconfiar, pois ele(a) pode se tornar ainda mais agressivo(a). O sigilo é importante para que o outro não tenha reações negativas;
Acredite, você merece ser feliz e ter ao seu lado alguém que realmente te valorize e apoie.