Embalado pelo desejo de possuir uma lancha e com ela navegar livremente, mercado de embarcações supera período de maré baixa e negócios voltam a movimentar estaleiros
O clima de otimismo foi verificado na 21ª edição da São Paulo Boat Show, evento anual em que fabricantes lançam alguns de seus modelos mais cobiçados. Encerrada na terça-feira 2, a feira recebeu 33,5 mil visitantes e 250 embarcações foram comercializadas, movimentando R$ 155 milhões. “Tivemos 15 lançamentos, o que foi uma surpresa para nós”, diz Marcio Dottori, diretor técnico do evento. “Prevemos um crescimento do setor para 2019”, afirma. A mudança de ventos é confirmada pelo empresário diz Ernani Paciornik, organizador da feira. “Normalmente, em outros setores, as pessoas estão esperando o fim da eleição para definir se vão investir. Aqui não”, garante. “A estagnação em que o Brasil estava começa a mudar, e o que vemos aqui é um reflexo do que está acontecendo no país inteiro”.
Ter uma embarcação é o típico sonho de consumo que só se torna realidade para poucos. Alguns dos lançamentos da feira comprovam esse caráter de objeto de desejo. É o caso da Schaefer 510, iate de 51 pés com design projetado pelo estúdio italiano Pininfarina, responsável pelo visual de carros esportivos como Ferrari e Maserati. A criação de conceitos em parceria com designers, decoradores e escritórios de renome é uma das principais tendências atuais no setor, e o resultado são embarcações luxuosas de preços elevados, em alguns casos ultrapassando a casa de R$ 5 milhões.
Infraestrutura
O espectro de opções, contudo, é bastante amplo e inclui modelos para quem está começando a se aventurar na água, caso de lanchas a partir de R$ 49 mil (preço de um automóvel popular) e de barcos capazes de receber seis pessoas por R$ 78 mil. Muita gente embarca no hobby comprando um modelo modesto, mas aqueles que se apaixonam logo saem em busca de opções mais caras.
O turismo náutico é um segmento que ainda tem grande potencial de crescimento no País. Ele engloba não apenas a produção das embarcações, mas toda uma cadeia envolvendo estaleiros, marinas e hotéis. Só o Estado de São Paulo movimenta cerca de R$ 5,3 bilhões por ano e emprega 27 mil pessoas direta e indiretamente, segundo pesquisa da Lidera Consultoria. A principal deficiência é a falta de infraestrutura em cidades com potencial turístico. Alguns exemplos são Búzios, no Rio de Janeiro, Canavieiras, na Bahia, e Cananeia, em São Paulo. “O dono do barco chega a essas cidades e não encontra uma marina, ou um hotel, e vai para outro lugar”, diz Paciornik.
Mudar esse quadro exige uma aproximação maior do poder público com empresários, como ocorre em outros países. O croata Mato Frankovil, prefeito de Dubrovnik, falou no 4º Congresso Náutica, dentro da São Paulo Boat Show, sobre como investir em infraestrutura para atrair turistas. No caso da Croácia, Bill Gates se tornou um habitué.
Reprodução: Istoé