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《 ARQUIVO 》

Chiquinha Gonzaga foi a primeira mulher que se atreveu a compor uma marcha de carnaval –  “Ó abre que eu quero passar, ó abre alas que eu quero passar…” Quem lembra? Quem já não foi a uma festa, ou clube, ou bloco de rua que não cantou essa marchinha? Podemos contar a histórias de muitas mulheres através do samba, da arte do carnaval, seja como compositora, cantora, passista, baiana, destaque nos carros alegóricos e madrinhas de escolas e bateria, porta bandeira, na costura esmerada de cada fantasia e até na bateria. Sem elas não há carnaval, sem elas não há brilho, não há alegria no samba. Quando resolvem assumir seu papel na Escola, não medem esforços. Para ficarem em forma, se submetem as mais duras dietas, frequentam as academias, pois assim estarão com seus corpos perfeitos a iluminar a passarela, as mães levam suas filhas e filhos para a quadra, assim garantem inclusive, a sua continuação. Nos bastidores as costureiras, verdadeiras artistas transformam o sonho em realidade varando noites e mais tarde usufruindo de seu momento de glória desfilando e vendo os aplausos de sua obra na Avenida, as Baianas rodopiam e passam para suas filhas e netas o bastão ao longo da carreira, não importa, vale tudo para levar a sua escola ao topo e elas determinadas cumprem sua missão. A porta bandeira evolui, sem se importar com o mastro e a fantasia, parece que tudo está encaixado, está no lugar que tem que estar e quando chega ali na frente do público fica gigante em seu esplendor.

Nas ruas, elas dominam com sua graça e criatividade, são vários os blocos como As Mulheres de Chico que arrastam cinquenta mil foliões na Praia do Leme, no RJ, O Batuque das Meninas, também carioca, composto por 26 mulheres, com um belo mix de estilos musicais, Bloco das Cacheadas, formado por 100 mulheres saindo dia 23 de fevereiro na Tijuca no RJ, Bloco da Dona Yayá, tradicional e feminista, Paulista da Bela Vista e que começou com a intenção de chamar a atenção para a Casa da Dona Yayá, elas saem dia 23/02 as 10H00, Bloco Afro Ilu Oba de Min, que sai da Casa das Caldeiras em São Paulo, com suas mulheres percussionistas chamando atenção para os vários projetos inclusivos com mulheres e adolescentes.

Pelo Brasil afora elas se espalham e conquistam seus espaços, em Olinda – Pernambuco o Bloco Conxitas com cerca de 140 mulheres vem animando os foliões há quase 10 anos. O bloco tem batuqueiras, dançarinas e três cantoras que entoam frevos e outras músicas, em Salvador a criatividade rola solta com o Tuk Tuk Sonoro da cantora Sylvia Patrícia Inspirado nos tuk tuks usados como taxis na Tailândia e Índia, a cada ano encarna uma personagem, fantasiado desde Carmen Miranda a Passista de Escola de Samba. Esse ano sairá dia 19 de Fevereiro, no Furdunço – Ondina –Barra.

Elas dominam os camarotes com suas camisetas estilizadas, como Musas, com seus corpos perfeitos e simpatia, é quase um Desfile de Miss Profano, pois ao invés de acenarem moderadamente, distribuem beijinhos e desfilam sem moderação para seus fãs e admiradores fazendo a alegria dos patrocinadores, dos organizadores da festa e da mídia.

A Palavra Carnaval vem do latim carnem levare, que significa “abster-se, afastar-se da carne”.  Mas nada é tão carnal quanto o carnaval.

O Poeta Carlos Drumond de Andrade em 1934, já havia entendido o verdadeiro significado dessa festa e a transformou em poesia.

Um Homem e o seu Carnaval”, de Carlos Drummond de Andrade (do livro Brejo das Almas, 1934)
“Deus me abandonou
no meio da orgia
entre uma baiana e uma egípcia.
Estou perdido.
Sem olhos, sem boca
sem dimensão.
As fitas, as cores, os barulhos
passam por mim de raspão.
Pobre poesia.
O pandeiro bate
É dentro do peito
mas ninguém percebe.
Estou lívido, gago.
Eternas namoradas
riem para mim
demonstrando os corpos,
os dentes.
Impossível perdoá-las,
sequer esquecê-las.
Deus me abandonou
no meio do rio.
Estou me afogando
peixes sulfúreos
ondas de éter
curvas curvas curvas
bandeiras de préstitos
pneus silenciosos
grandes abraços largos espaços
eternamente.”

O meu desejo é que vocês continuem As mais Influentes Rainhas do Carnaval!