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Miriam Freitas

Filme dirigido por Julia Murat segue agora para festivais na Estônia e na França.

 O filme brasileiro “Regra 34”, dirigido por Julia Murat, segue sua trajetória nos festivais. Depois de ganhar o Leopardo de Ouro, prêmio máximo do Festival de Locarno, na Suíça, e Melhor Direção de Ficção da Première Brasil, no Festival do Rio, o longa recebeu o prêmio na categoria Representação de Gênero no Festival de Cinema Iberoamericano de Huelva Espanha, que ocorreu entre os dias 11 e 18 de novembro. No mesmo festival, a protagonista Sol Miranda levou o prêmio de Melhor Atriz, e, no Festival Mix Brasil, no último fim de semana, a atriz foi vencedora do Coelho de Prata na categoria de Melhor Interpretação. 

Sol ainda segue seu tour na Europa para representar a produção brasileira no Black Nights Film Festival, na Estônia, e no Festival des Trois Continent, na França. O longa, que estreia dia 12 de janeiro no Brasil, já foi confirmado em mais de 25 festivais internacionais.

Regra 34” conta a história de Simone (Sol Miranda), uma jovem negra que acabou de ser aprovada na defensoria pública e pagou os estudos fazendo performance on-line de sexo como camgirl. O filme, uma produção das brasileiras Esquina Filmes e Bubbles Project (“Benzinho”, “Família Submersa”, “Pendular”), além da francesa Still Moving, têm distribuição da Imovision.   

O roteiro deste filme foi construído a muitas mãos e durante muito tempo. Mas foi durante a pesquisa de elenco que ele se sedimentou. Neste processo, Gabriel Bortolini [diretor assistente e casting] foi fundamental. Cada encontro, com cada ator, era um processo de sala de roteiro. Depois tivemos um intenso trabalho com os atores escolhidos e o roteiro e os personagens foram novamente modificados.  Os atores, todos, mas em especial Sol Miranda, trouxeram outras camadas, aprofundando os personagens. Trabalhar com uma equipe e elenco negros, tendo eles espaços criativos, não é apenas um projeto antirracista. É sobre construção de novas subjetividades e sobre profundidade narrativa”, evidencia a diretora Julia Murat.

Regra 34” também foi muito bem recebido pela imprensa internacional. A prestigiosa Revista francesa Cahiers du Cinema escreveu, na sua mais recente edição, “…Murat faz ao mesmo tempo uma reflexão política distanciada e evocação íntima. Através da trajetória de Simone (interpretada pela formidável Sol Miranda), o filme questiona adequações às regras, seja da lei, seja da web, as noções de livre arbítrio e os limites da transgressão… Cerebral e sem qualquer pudor, o filme ganhou o Leopardo de Ouro, de um júri que soube valorizar o desconforto pertinente que ele suscita”.

A atriz Sol Miranda explica como ela foi selecionada para o papel da protagonista Simone.  “Quando me conheceu, Júlia me disse que havia algo inacessível em mim, algo que mesmo escondido aparecia. Algo que a lembrava Simone. Julia não me escolheu porque eu sou negra. Mas porque reconhecia traços de Simone em mim. Mas isso só foi possível porque Gabriel Bortolini, um homem negro, a fez refletir sobre Simone poder ser negra. Apesar do medo de ter uma atriz negra em um filme sobre sexualidade, eles toparam o risco. Isso é oportunidade. É o tipo de oportunidade que precisamos construir“, ressalta. 

O diretor assistente e responsável pelo casting, Gabriel Bortolini, acrescenta: “Falar do direito individual num momento tão polarizado como o atual é um desafio. A diversidade vai além de ter equipes mistas, é preciso ter novos corpos na tela com pretos ocupando todas as narrativas e não só as que os brancos acham que nos cabem. No processo de casting, foi importante apresentar novos olhares para um assunto tão específico. Existe muita resistência do mercado em debater diversidade, um receio de se falar para um nicho ou com uma bandeira. Precisamos naturalizar nossos corpos nas telas, novas narrativas, falar de quem somos e como queremos ser. O Brasil é um país diverso e não tem como fazer cinema de verdade de outra forma”. 

Durante a exibição no festival de Locarno, o filme também foi muito elogiado pela imprensa local: “O filme de Julia Murat sobre uma estudante de direito com hábitos pornográficos é um trabalho corajoso, imoral é essencial”, comentou o crítico Oris Igbokwe Bolo, do The Film Veredict. Para Redmond Bacon, do Dirty Movies, o filme é “um crepitante e brilhante estudo de personagem […] explorando os limites do consentimento, o significado de se procurar a dor, e a interseção entre opressão sistêmica e livre arbítrio”. Já Timé Zoppe, do Trois Couleur, afirmou: “a brasileira Júlia Murat analisa brilhantemente as problemáticas atuais ligadas às opressões… Essa não linearidade do percurso é o que nos toca e interessa politicamente nos permitindo apreender as imbricações tão diabolicamente complexas entre ordem e caos, doçura e violência, desejo e opressão”. 

A diretora Julia Murat já tem um histórico de prêmios em outros festivais internacionais. Seu primeiro filme de ficção, “Histórias que Só Existem Quando São Lembradas” (2011), que estreou no Festival de Veneza, foi selecionado pelos festivais de Toronto, Rotterdam e San Sebastian, ganhando 39 prêmios internacionais, incluindo Melhor Filme em Abu Dhabi, Sofia e Lima. “Pendular” (2017) ganhou o Prêmio FIPRESCI, na mostra Panorama do Festival de Berlim, e foi selecionado por diversos festivais ao redor do mundo. Julia Murat dirigiu também dois documentários, “Dia dos Pais”, que estreou no Cinéma du Réel, em 2008, e “Operações de Garantia da Lei e da Ordem” (2017), exibido no Festival de Cinema de Brasília, além de curtas e videoinstalações. 

Sinopse

Simone (Sol Miranda) é uma jovem defensora pública que defende mulheres em casos de abuso. No entanto, seus próprios interesses sexuais a levam a um mundo de violência e erotismo. 

FICHA TÉCNICA

Diretora: Julia Murat

Diretor assistente & Casting: Gabriel Bortolini

Produtores: Julia Murat e Tatiana Leite 

Coprodutores: Jean Thomas Bernardini, Matias Mariani, Juliette Lepoutre, Pierre Menahem

Roteiro: Gabriela Capello, Julia Murat, Rafael Lessa, Roberto Winter

Fotografia: Léo Bittencourt

Diretor de arte: Alex Lemos 

Set designer: Lê Campos

Figurino: Diana Leste

Som: Laura Zimmermann

Editores: Beatriz Pomar, Julia Murat & Mair Tavares

Desenho de som: Daniel Turini & Henrique Chiurciu

Mix: Emmanuel Croset

Música: Lucas Marcier e Maria Beraldo

Colorista: Fabio Souza

Producão executiva: Joelma Oliveira Gonzaga 

Elenco

 Sol Miranda (Simone) 

Lucas Andrade (Coyote)

Lorena Comparato (Lucia)

Isabela Mariotto (Natalia)

Georgette Fadel (Professora)

Márcio Vito (Professor)

Rodrigo Bolzan (Defensor Público)

Dani Ornellas (Janaína)

Babu Santana (André)

Lucas Gouvêa (Paulo)

Mc Carol (Nill)

Simone Mazzer (D. Ivone)

Raquel Karro (Professora)

Marcos Damigo (Promotor)

Julia Bernat (Marina – Aluna)

Marina Merlino (Bruna – Aluna)

Samuel Toledo (Antônio)

Luiza Rolla (Menina Bdsm)

Yakini Kalid (Menina Bdsm) 

 

Por: Míriam Freitas 

Colunista Social 

“Cinema”